Em declarações à agência Lusa hoje de manhã junto ao Liceu Passos Manuel, em Lisboa, que estava encerrado devido à paralisação, o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (SINTAP), José Abraão, disse que os primeiros sinais de "uma grande adesão chegaram da área das autarquias (transporte de resíduos sólidos e lixo), que está praticamente parado de Norte a Sul do país".
“Na área da saúde, no turno da noite, estão sobretudo a funcionar os serviços mínimos, das escolas chegam-nos sinais de encerramentos em todo o país. Portanto nesta altura estamos a prever uma greve com alguma importância, com significado”, disse.
José Abraão diz que os trabalhadores "estão cansados da orientação de que estão a ser repostos rendimentos e direitos, mas não o sentem, por isso, é que a nossa exigência no sentido dos aumentos salariais para todos os trabalhadores sem distinção".
“Esta greve é também um apelo claro ao Governo no sentido de dizer que não vale a pena manipular os números daquilo que o Orçamento do Estado contem para Administração Pública, porque governar é optar como diz o senhor primeiro-ministro. Então se é assim, é hora de optar pelos serviços públicos que estão degradados com falta de pessoal, onde cresce permanentemente a precariedade”, sublinhou.
No entendimento do dirigente sindical, é chegada a hora de com tempo o Governo “dar um sinal a estes trabalhadores mostrando que é possível aumentar os seus salários, motivando, induzindo confiança com vista ao futuro dos serviços públicos, desde a área da saúde, educação, da justiça em concreto onde se vivem problemas enormes”.
“Temos também de dizer que há também o problema das carreiras profissionais. Há cerca de 80 carreiras profissionais que não estão revistas como é o caso concreto das inspeções, da ACT [Autoridade para as Condições de Trabalho], da Segurança Social e dos jogos e casinos, entre outras, que não veem as carreiras revistas desde 2009 e agora estão a tentar impor medidas e carreiras categoriais que não são aceites pelos trabalhadores”, disse.
José Abraão lembrou ainda que nos próximos dias vão continuar as greves na administração pública.
“Na segunda-feira, os técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica têm uma manifestação que vai até ao parlamento. Temos cerca de 30 mil trabalhadores em contrato individual de trabalho a quem foram atribuídas 35 horas e continuam a fazer 40 porque são impostas e não é refeito o seu percurso profissional”, disse.
José Abraão disse ainda que “este governo liderado por quem é e apoiado pelos partidos à esquerda vai decerto compreender este desconforto, descontentamento e procurar resolver alguns problemas celebrando acordos porque a nossa matriz enquanto FESAP e UGT é a da negociação.
“Claro que quando isto não resulta as pessoas têm de protestar”, concluiu.
Também a vice-presidente da Federação Nacional de Educação (FNE) e presidente da UGT, Lucinda Dâmaso, disse em declarações à Lusa que o nível e adesão das escolas em todo o país “é muito elevado”, com escolas encerradas.
“Está em causa um desprezo total pela educação, pelos trabalhadores da educação e pelos trabalhadores da administração pública. Temos um OE que não vem ao encontro ao que seria o desejável (…)”, disse.
Lucinda Dâmaso indicou também que todas as formas de luta estão em cima da mesa.
“Não vamos desistir. Iremos continuar numa luta sem fim até que o governo ceda naquilo que é fundamental para a educação e para os trabalhadores em global, para administração publica”, frisou.
Adesão à greve "acima das expectativas" na educação e saúde no Porto
A greve dos trabalhadores da administração pública está a registar uma adesão no Grande Porto “acima das expectativas”, quer na saúde, “superior a 90%”, quer na educação, com “a maior parte das escolas encerradas”, disse hoje fonte sindical.
Em declarações à Lusa, o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte, Orlando Gonçalves, afirmou que na saúde a adesão “está acima dos 90%, com as consultas externas encerradas, assim como as colheitas de sangue, em praticamente todos os hospitais da zona”.
“Os serviços mais afetados são os que não tem serviços mínimos para os assegurar, que é o caso das consultas externas, colheitas de sangue e blocos operatórios para a cirurgias programadas”, sublinhou, citando como exemplo os hospitais de São João e de Vila Nova de Gaia.
De acordo com o mesmo dirigente sindical, “os internamentos estão também a funcionar com os mínimos”.
“A adesão nos hospitais está fortíssima, acima das nossas expectativas, uma vez que já estão a começar a ser aplicadas as 35 horas [de trabalho por semana] e houve a publicação do acordo coletivo, embora ainda não esteja a ser aplicado na íntegra”, frisou.
Na educação, segundo Orlando Gonçalves, já era esperada uma elevada adesão, porque “este ano letivo arrancou com falta de trabalhadores não docentes nas escolas e os trabalhadores estão exaustos”.
“Na educação já prevíamos este cenário. Praticamente todas as escolas estão encerradas no concelho do Porto e noutros concelhos da região Norte”, como por exemplo a escola secundária Clara de Resende, o Conservatório de Música do Porto e a escola do Cerco, disse.
Em seu entender, “é a resposta dos trabalhadores ao Governo, que perceberam, analisando e verificando o Orçamento de Estado para 2019, que era possível ir mais além, era possível um orçamento mais justo”.
O sindicalista referiu também que no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do Porto a adesão é de cerca de 80%, com “cinco ambulâncias inoperacionais só no Porto”.
Orlando Gonçalves disse ainda que a greve “ronda os 90%” no estabelecimento prisional de Paços de Ferreira.
Escolas fechadas e hospital de Faro sem consultas externas
O Hospital de Faro está hoje sem consultas externas, além de vários outros serviços afetados, e muitas escolas no Algarve estão encerradas devido à greve da função pública, disse à agência Lusa fonte sindical.
No Algarve, os setores da Educação e da Saúde estão a ser os mais atingidos pela greve, cuja adesão, no geral, está a ser "muito elevada", indicou Rosa Franco, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e das Regiões Autónomas.
"As consultas externas no Hospital de Faro estão paradas e os blocos operatórios em Faro e Portimão estão só a funcionar para as urgências, nos serviços mínimos", referiu a sindicalista, sublinhando que no hospital de Faro a adesão à greve ronda os 90% e no de Portimão os 88%.
Rosa Franco descreveu ainda a existência, no distrito de Faro, de centros de saúde e de extensões de saúde encerradas, assim como vários balcões da Segurança Social ou das Finanças.
Por outro lado, acrescentou, "a grande maioria das escolas em todos os concelhos estão encerradas ou sem atividades letivas".
A Escola EB 2,3 Joaquim Magalhães, no centro de Faro, foi um dos estabelecimentos que teve que encerrar devido à greve, tal como a Escola Secundária Tomás Cabreira, que só conseguirá reunir condições de funcionamento no período noturno.
Já a Escola Básica de São Luís, também no centro da cidade, abriu portas, mas de forma condicionada, com o aviso à porta de que, devido à greve, poderiam "não estar reunidas as condições indispensáveis de segurança, higiene e saúde".
Em Vila Real de Santo António, o cenário era semelhante, com as escolas do Agrupamento D. José I encerradas e a escola secundária sem atividades letivas.
Nesta cidade do Sotavento algarvio, encerrou também o serviço de Finanças e o tribunal está a funcionar, mas de forma condicionada, tendo a Lusa constatado que os serviços do Ministério Público eram os únicos em funcionamento.
No Barlavento algarvio, a maioria das escolas estão também sem atividades letivas e vários estabelecimentos do ensino básico estão mesmo encerrados.
Nas cidades de Lagos, Lagoa e de Portimão, os serviços municipais estão a funcionar a meio gás, o mesmo sucedendo com as repartições de finanças, serviços de saúde e os tribunais.
Os trabalhadores da administração pública estão hoje em greve por aumentos salariais, o que poderá levar ao encerramento de escolas e serviços municipais, ao cancelamento de atos médicos e comprometer o funcionamento de tribunais e finanças.
Inicialmente a greve foi convocada pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública (ligada à CGTP) para pressionar o Governo a incluir no Orçamento do Estado para 2019 (OE2019) a verba necessária para aumentar os trabalhadores da função pública, cujos salários estão congelados desde 2009.
Contudo, após a última ronda negocial no Ministério das Finanças, em meados de outubro, a Federação de Sindicatos da Administração Pública e o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, ambos filiados na UGT, anunciaram que também iriam emitir pré-avisos de greve para o mesmo dia, tendo em conta a falta de propostas do Governo, liderado pelo socialista António Costa.
(Notícia atualizada às 12h21)
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