Intervindo na assembleia parlamentar da NATO, que decorre entre hoje e segunda-feira na Assembleia da República, o ex-primeiro-ministro português afirmou que o mecanismo colaborativo Covax - que agrega GAVI, Organização Mundial de Saúde, Unicef e outras organizações - está "a ser impedido de ter sucesso por governos que podiam e deviam estar a fazer mais, que estão a fazer alguma coisa, mas que não é suficiente".

Durão Barroso apontou disparidades entre os níveis de vacinação das populações de países de rendimentos mais altos e os de rendimentos mais baixos, referindo que apenas "2,4 por cento das pessoas em países de baixos rendimentos receberam pelo menos uma dose de vacina" e que "apenas 4,6% da população africana está vacinada".

"Há um problema real de desigualdade. Isto é moralmente inaceitável", declarou.

O ex-presidente da Comissão Europeia indicou que neste momento, os números oficiais atingem "4,7 milhões de mortes com covid", mas afirmou que "os números reais são de certeza muito, muito mais elevados".

Além disso, há "236 milhões de casos confirmados" no mundo e a "perda de quatro mil biliões de dólares na economia global, sem fim à vista e isso precisa de mudar já".

Com 341 milhões de doses distribuídas em 144 economias até agora, Durão Barroso afirmou que a meta continua a ser de conseguir 1,4 mil milhões de doses até ao fim do ano e 4,4 mil milhões até ao fim de 2022.

"Não estou satisfeito com estes números. Já devíamos ter distribuído mil milhões", assumiu, indicando que "o maior obstáculo tem sido o fornecimento".

"Às vezes tínhamos dinheiro e não havia doses de vacinas. Antecipámos sempre constrangimentos nos fornecimentos, mesmo antes de haver vacinas. Mas ninguém podia ter antecipado que as nações mais ricas iriam comprar vacinas, por vezes em quantidades cinco e seis vezes superiores ao que necessitavam para si", criticou.

Além disso, as restrições às exportações que continuam a aplicar-se são o tipo de atitudes de governos que têm impedido vacinas de chegar onde mais precisam e que restringiram o fluxo de vacinas pelo mundo, apontou, provocando "disparidades inaceitáveis".

No entanto, não é por falta de vacinas, cuja produção mundial deverá atingir "12 mil milhões de doses até ao fim do ano", o que chegaria para vacinar toda a população adulta.

"Não só é moralmente errado, é ter vistas curtas. Isso só servirá para prolongar a pandemia, o que não ajuda ninguém", argumentou, reconhecendo que "é dever dos governos protegerem os seus cidadãos primeiro".

Salientou que a pandemia acarreta ameaças à saúde global, mas as outras consequências que provoca também são ameaças à segurança global.

A desigualdade no acesso às vacinas está "a alimentar o ressentimento contra os países mais ricos, contra o que se costuma chamar o Ocidente e o ressentimento é um dos piores sentimentos que pode haver para a segurança global".

Além disso, as restrições globais à liberdade de movimentos das populações geram "agitação civil, desordem e explosões de violência mesmo nas democracias mais estáveis".

Durão Barroso alertou ainda para o risco que representa a possibilidade de doenças infecciosas serem usadas como armas e defendeu que é preciso encarar seriamente as ameaças biotecnológicas.

(Artigo atualizado às 13:08)