O gelo que circunda a Antártida está prestes a atingir um novo recorde mínimo pelo segundo ano consecutivo, de acordo com o The Guardian.

Embora o registo deste inverno ainda não esteja completo e, portanto, não seja claro se a extensão do gelo será menor do que no ano passado, os cientistas afirmam que já é evidente que o sistema antártico mudou.

“Estamos a falar de dois eventos extremos incríveis”, disse Will Hobbs, investigador de gelo marinho na Universidade da Tasmânia, na Austrália. “O ano passado foi como foi e este ano voltou a acontecer”, referiu.

Segundo Hobbs, a atmosfera é o principal impulsionador desta mudança.

“O que é diferente agora é que as temperaturas mais quentes do Oceano Antártico estão realmente a ter impacto no gelo marinho”, explicou. “Sabemos que os últimos dois anos foram os mais quentes já registados no planeta, com as temperaturas globais 1,5ºC acima. Este calor reflete-se nos oceanos ao redor da Antártida”, acrescentou o investigador.

Will refletiu ainda que o gelo marinho da Antártida poderá demorar décadas a recuperar-se do evento do ano passado e que, até lá, o impacto do aquecimento global a longo prazo é evidente. “Há cada vez mais evidências de que [a média de longo prazo da cobertura de gelo marinho] provavelmente não voltará”, disse.

No sábado passado, o gelo marinho do Oceano Antártico cobria 17 milhões de km quadrados, menos que a mínima anterior de 17,1 milhões de km quadrados no ano passado. A média de longo prazo, a 7 de setembro e com base em dados de satélite, era de 18,4 milhões de km quadrados.

O inverno antártico, normalmente, começa em março e dura até outubro. Por esse motivo, para Phil Reid, investigador do Australian Bureau of Meteorology, ainda é cedo para dizer se o gelo marinho do inverno atingirá, de facto, um novo recorde mínimo.

No entanto, afirma que estudos recentes sugeriram que os baixos níveis de gelo marinho na Antártida contribuíram para o aumento das chuvas no verão e dias secos de inverno na Austrália. “Acredita-se que as interações do oceano e da atmosfera induzidas pela perda de gelo marinho da Antártida conduzam a essas mudanças”, disse Reid.

Embora a perda de gelo marinho não altere, diretamente, os níveis globais das águas do mar, os cientistas dizem que a mesma tem um impacto indireto e, potencialmente, grande, particularmente, no verão: a barreira protetora, que retarda a perda de gelo glacial do continente e desempenha um papel na aceleração do aquecimento do oceano, dado que as águas escuras expostas absorvem mais calor da atmosfera, vai desaparecendo.