“Quem criou esta situação não foi o Governo, quem mudou de posição não foi o Governo”, disse António Costa em entrevista à TVI, acrescentando que, quando anunciou que tinha comunicado ao Presidente da República que o Governo se demitiria caso o parlamento aprove em votação final global o diploma relativo à carreia dos professores, não procurou uma “crise política” mas, pelo contrário, tentou “evitar uma crise orçamental”.

O primeiro-ministro acrescentou que tentou, ao mesmo tempo, “evitar uma crise na credibilidade internacional do Estado português”.

Segundo António Costa, um Governo em fim de mandato não pode “estar a comprometer o país desta forma para orçamentos futuros”, pois Portugal não vive “num mundo isolado” e está sujeito ao escrutino diário da economia e das finanças públicas.

Por isso, “irresponsabilidades desta natureza têm imediata tradução na forma como as pessoas olham para a estabilidade” do Orçamento de Estado português e para a dívida pública, o que “tem consequências”, defendeu, indicando que não é possível “brincar aqui”.

“A última coisa que um primeiro-ministro deseja é demitir-se e a última coisa que deseja é que haja uma crise política”, salientou António Costa, notando que foi seu objetivo “antecipar um problema e evitar que o problema existisse”, pois é “manifesto que o problema existe”.

Questionado se em causa estaria o desejo de eleições antecipadas, o socialista considerou que, “se isso fosse assim”, não teria dito “o que disse no momento da votação em especialidade”.

Pelo contrário, referiu “aguardava calmamente pela votação final global e, quando já não houvesse remédio, então apresentava a demissão”.

O primeiro-ministro salientou também que, “desde o início da legislatura até hoje, nunca o PEV, o BE ou o PCP” surpreenderam “com as posições que assumiram” e acrescentou que “não está no acordo que não votassem” esta matéria, era “um tema completamente omisso”.

Apesar de ter sido questionado várias vezes sobre se os acordos de apoio parlamentar que o PS assinou com estes partidos podem ser mantidos no futuro, António Costa não respondeu diretamente, mas salientou que, “até agora, felizmente, nenhum partido deixou de cumprir aquilo” que estava acordado.

“O resultado global da governação ao longo destes quase quatro anos foi, não só positivo do ponto de vista da estabilidade política, como também claramente do ponto de vista dos resultados económicos”, disse.

António Costa referiu também que, ao longo dos últimos dias, tem visto “quer o PSD, quer o CDS, aparentemente a contradizerem aquilo que votaram na comissão parlamentar, e apontou que, “quem deu aqui uma grande cambalhota”, foi a direita, que viabilizou “à 25.ª hora aquilo que nunca tinham viabilizado anteriormente”.

“O que eu retiro do que diz o doutor Rui Rio e a doutora Assunção Cristas é que manifestamente eles não sabiam sequer o que estava a ser votado na comissão parlamentar e foi aprovado com os votos do PSD e CDS”, salientou.

Por isso, o primeiro-ministro reiterou o apelo que já fez: “se votaram sem saber o que estavam a votar, há um remédio simples, que é, na votação final global, votam contra. Se, entretanto, ponderaram melhor e se arrependeram do que votaram, também têm bom remédio, votam contra”.

(Notícia atualizada às 23h04)