“Neste momento, não há nada a discutir sobre Almaraz, a cimeira [ibérica] foi clara ao discutir as questões de fundo na relação entre Portugal e Espanha em que as de energia e ambiente são duas muito importantes”, disse João Matos Fernandes.
Falando aos jornalistas à margem do seminário “A Zona Costeira de Portugal. Como a podemos defender?”, que decorre em Lisboa, o governante explicou que os dois governos comprometeram-se, até final deste ano, a nomearem um grupo de trabalho que, em conjunto, defina princípios para o ‘mix’ energético na Península Ibérica.
Dias depois da cimeira, que se realizou em 29 e 30 de maio, continuou o ministro, “o governo espanhol tornou pública a [intenção] de não se comprometer com qualquer decisão relativamente ao nuclear enquanto não elaborar um plano de energia e clima, o que acontecerá durante o ano 2018″.
“Neste momento, aquilo que temos é tempo para discutir e espaço para o poder fazer”, resumiu.
Questionado sobre os eventuais efeitos da manifestação convocada para sábado, em Madrid, pelo Movimento Ibérico Antinuclear, em que participam associações portuguesas, João Matos Fernandes salientou ser “muito normal e comum que assuntos com este grau de sensibilidade sejam discutidos” em várias áreas da sociedade.
“Estas questões vão muito para além da atividade do Estado e do Governo e das relações internacionais”, apontou, recordando que existe um conjunto ativo de associações que representam os cidadãos a intervir neste assunto, em que a Assembleia da República também tem um papel importante.
“O Governo português confrontou-se com o início de um projeto que não tinha uma avaliação de impacto ambiental transfronteiriço, por isso foi tão firme, colaborativo e consequente, conseguiu ter essa informação e ter uma opinião sobre a construção do aterro de resíduos nucleares”, resumiu o ministro.
Pelo menos 400 portugueses vão participar numa manifestação ibérica contra a energia nuclear, que os organizadores esperam reúna milhares de pessoas, e pedir ao Governo espanhol que impeça a continuação das centrais, como a de Almaraz.
Do Governo português, do atual e dos anteriores, o MIA queria que “fosse mais firme e incisivo”, como referiu Nuno Sequeira, vice-presidente da Quercus, que integra o Movimento.
Defendeu ainda que a queixa apresentada por Portugal em Bruxelas e depois retirada devia ser novamente colocada porque “Almaraz continua a funcionar e o armazém de resíduos nucleares continua a ser construído” e Espanha “irá insistir no prolongamento da vida da central”.
A possibilidade de a central de Almaraz, localizada junto ao rio Tejo e a cerca de 100 quilómetros da fronteira portuguesa, ter licença para prolongar o funcionamento além de 2020 e a construção de um armazém para resíduos nucleares perto da unidade, tem suscitado oposição em Portugal e em Espanha.
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