Maduro, que afirma ter sido vítima de um ataque com drones carregados de explosivos, do qual escapou ileso, já anunciou várias detenções e prometeu ir "a fundo" nas investigações.

"Voltou a fracassar, e na Venezuela tem que existir justiça, porque atentaram contra a minha vida", afirmou sobre o incidente que deixou sete militares feridos, segundo o governo.

"Justiça! Máximo castigo! E não vai haver perdão. Os que se atreveram a ir até ao atentado pessoal que esqueçam o perdão, vamos persegui-los e os capturá-los onde quer que estejam escondidos. Eu prometo!", disse num discurso ao país no sábado à noite.

O procurador-geral, Tarek William Saab, ligado ao governo, informou que na segunda-feira revelará as identidades dos detidos.

"Vão fornecer todas as informações que são obrigados a fornecer sobre este ato terrorista (...). Haverá uma sanção implacável", afirmou Saab, que acompanhava o desfile militar em Caracas durante o qual aconteceram os factos denunciados pelo governo.

“As investigações estão muito avançadas” e já “foram capturados parte dos autores materiais do atentado e capturada parte da evidência [drone]”, afirmou o Presidente venezuelano.

Maduro disse ainda esperar que o Presidente norte-americano, Donald Trump, entre outros, colaborem com a Venezuela, porque, segundo Maduro, as primeiras investigações indicam que vários dos responsáveis intelectuais e financeiros do atentado vivem na Florida. “Espero ter a colaboração dos Governos do continente, onde estão parte destes redutos da extrema-direita fascista”, frisou.

Maduro acusa presidente colombiano

Perante uma enorme contestação popular em consequência do colapso económico do país, Maduro atribuiu o ataque à "extrema-direita", como se refere à oposição, e ao presidente colombiano, Juan Manuel Santos.

O presidente citou uma entrevista de Santos esta semana à AFP, na qual este afirmou que via "próxima" a sua queda.

“Tratou-se de um atentado para me matar. No dia de hoje (sábado) tentaram assassinar-me. As investigações apontam a Bogotá”, disse. “Tudo aponta para a extrema-direita venezuelana, em aliança com a extrema-direita colombiana e tenho a certeza que Juan Manuel Santos está por detrás deste atentado”, acrescentou Maduro.

A Presidência da Colômbia refutou a afirmação do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. "Isso não tem base, o presidente está empenhado no batismo da sua neta Celeste, e não em derrubar governos estrangeiros", disse uma fonte da presidência aos jornalistas, este sábado.

Santos entregará o poder na próxima terça-feira ao vencedor das recentes eleições presidenciais, o político de direita Iván Duque, um duro crítico de Maduro.

Maduro, no entanto, determinou que os militares devem permanecer em "alerta máximo".

Grupo rebelde reivindica ataque

Um suposto grupo rebelde, Movimento Nacional Soldados de 'Franelas' (camisas), assumiu o ataque, de acordo com um comunicado lido no YouTube pela jornalista da oposição venezuelana Patricia Poleo, radicada nos Estados Unidos.

O grupo afirma ser integrado por militares e civis.

Duas explosões, aparentemente provocadas por um ‘drone’ [avião não tripulado], obrigaram ontem o Presidente da Venezuela a abandonar rapidamente uma cerimónia de celebração do 81.º aniversário da Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar).

A cerimónia, que decorria na Avenida Bolívar de Caracas (centro), estava a ser transmitida em simultâneo e de maneira obrigatória pelas rádios e televisões venezuelanas, e no momento em que Nicolás Maduro anuncia que tinha chegado a hora da recuperação económica ouviu-se uma das explosões, que fez inclusive vibrar a câmara que focava o chefe de Estado.

Nesse instante, a mulher do Presidente venezuelano, Cília Flores, e o próprio chefe de Estado olharam para cima.

Antes da televisão venezuelana suspender a transmissão foi possível ainda ver o momento em que militares rompiam a formação.

"A minha primeira reação foi de observação, de serenidade, porque tenho plena confiança no povo e nas Forças Armadas", afirmou depois Maduro no palácio presidencial de Miraflores.

O procurador-geral afirmou que um dos drones estava a agravar o ato. "Observei como o drone que filmava os atos explodiu", disse à CNN.

Um apartamento num edifício próximo sofreu um incêndio. Um polícia, que pediu anonimato, afirmou à AFP que deste imóvel saíram os drones e que um explodiu. Outras versões, no entanto, relatam uma explosão acidental de uma botija de gás.

Uma farsa?

Alguns observadores suspeitam do relato dos acontecimentos fornecido pelo governo de Maduro. "A investigação oficial da alegada tentativa de assassinato contra o presidente Maduro toma o curso habitual: começa com as conclusões e trabalha ao contrário", disse Phil Gunson, consultor de um grupo de crise sem fins lucrativos, citado pelo britânico The Guardian. "Num país onde 98% dos crimes não é punido, o governo conseguiu resolver este caso numa questão de horas", ironizou.

David Smilde, observador norte-americano para a América Latina, deu voz a dúvidas sobre se o incidente foi encenado, alertando que Maduro irá aproveitar esta oportunidade para cimentar o seu poder. "Ele vai restringir ainda mais a liberdade e fazer purgas no governo e nas forças armadas", alertou.

Repressão?

A advertência de Maduro gerou temores de uma ofensiva contra os seus opositores, num país onde se denuncia que o governo mantém 248 "presos políticos", entre eles o dirigente Leopoldo López.

"Alertamos que o até agora anunciado pelo governo madurista abre a porta para uma perseguição e onda de repressão que pode justificar qualquer coisa", afirmou Nicmer Evans, dissidente do chavismo e líder da opositora Frente Ampla.

"Não queremos atentados nem auto-atentados, não queremos golpes nem auto-golpes! Tampouco queremos mais hiperinflação, mais fome ou mortes por falta de remédios", afirmou Jesús Torrealba, ex-secretário da coligação da oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD), atualmente muito dividida.

Maduro mostrou-se desafiador, com a declaração de que agora está "mais decidido do que nunca a seguir o caminho da revolução".

Reação internacional

Um alto funcionário do Departamento de Estado afirmou que a Casa Branca "acompanha de perto a situação". Declaração similar foi divulgada pelo governo da Alemanha.

Espanha condenou qualquer tipo de violência com fins políticos, limitando-se a classificar de "atos violentos" a tentativa de assassinato que Maduro afirma ter sofrido.

O governo russo condenou com "veemência a tentativa de assassinato". "Consideramos que o uso de métodos terroristas como ferramenta para as lutas políticas é categoricamente inaceitável", afirma em comunicado o ministério russo das Relações Exteriores.

Governos aliados da Venezuela, como Cuba e Bolívia, também condenaram o ataque.

Ex-motorista de autocarros, com 55 anos, Maduro chegou ao poder em 2013, após a morte de Hugo Chávez, que governava o país desde 1999.

Apesar da crise económica, o presidente foi reeleito a 20 de maio numa votação polémica, boicotada pela oposição, que considerou o pleito ilegítimo.

A sua reeleição não foi reconhecida por grande parte da comunidade internacional.