A ministra Graça Fonseca, que falava na cerimónia de abertura da 89.ª edição da Feira do Livro de Lisboa, respondia à Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), que se mostra preocupada com o declínio no setor.

O presidente da APEL, João Alvim, afirmou que apesar das melhorias se mantêm as preocupações no meio editorial e livreiro.

“Se olharmos no curto prazo, o que vemos hoje em dia é que depois da significativa quebra do consumo, da venda, e da procura dos livros, em anos anteriores, neste momento estabilizámos, mas é um estabilizar que não é recuperar. Perdeu-se, verdadeiramente perdeu-se”, lamentou, apontando como algumas das razões as mudanças de hábitos, os custos, o estrangulamento dos canais livreiros e problemas de pirataria.

Para a ministra, “vale a pena investir neste mercado” e a “longevidade da feira do livro é um bom exemplo de como vale a pena”.

“Ao longo de 89 anos, o país passou por quase todas as alterações políticas, sociais, económicas, demográficas e a verdade é que a feira do livro continua num formato muito próximo do original, com objetivos próximos dos originais, e que hoje em dia foi conseguindo adaptar-se àquilo que são progressivamente as transformações nos hábitos de leitura”, afirmou a governante.

Graça Fonseca chamou a atenção para a importância de começar a “olhar para a forma como as novas gerações leem”, em vez de simplesmente afirmar que há menos leitores, porque “muitas pessoas hoje em dia continuam a preferir ler livros de papel” – como assumiu ser o seu caso –, “mas há muitas pessoas que hoje em dia leem de forma diferente, leem um e-book, leem através de uma plataforma, leem através de algo que alguém lhes passou”.

Por isso, estes novos hábitos de leitura e o novo perfil de leitor é algo a que o setor livreiro tem que estar atento e a que tem de se adaptar, considerou, afirmando que a tutela tem tido já algumas conversas com os editores sobre este assunto.

“É preciso adaptarmo-nos e conseguir manter o hábito de ler mesmo que para isso seja necessário haver uma dimensão do segmento que se adapta aos novos hábitos de leitura e acho que a feira do livro tem conseguido adaptar-se a essas transformações. O facto, por exemplo, de a Feira do Livro de Lisboa este ano ter esta preocupação, uma temática da sustentabilidade, revela bem o quanto a organização está atenta às tendências que hoje em dia são marcantes”, acrescentou.

Outra preocupação revelada pelo presidente da APEL é a “iliteracia cultural e educativa”, um trabalho que os editores e livreiros têm acompanhado com o Plano Nacional de Leitura, mas para o qual “o ponto-chave é aumentar o investimento”.

“Se queremos olhar um pouco mais longe, é preciso aumentar a capacidade de ler”, disse, sublinhando que esta é uma área para ser estimulada desde casa, em família, com os pais.

A ministra da Cultura secundou esta ideia, dando como exemplo as memórias da sua própria infância, afirmando que a Feira do Livro de Lisboa é “guardiã de uma memória única de Lisboa”.

“Tenho a memória de ser pequena nos anos 1980, quando a feira veio para este espaço do Parque Eduardo VII, e vir à feira do livro era um ritual de família, como felizmente hoje em dia continua a ser. É muito interessante ver que ao fim de semana há muitas famílias que vêm com as crianças, porque tem a dimensão de conhecer novos autores, adquirir livros, mas também tem uma dimensão de festa num espaço publico, num espaço bonito, num espaço em que dá para as crianças terem outros tipos de atividades”, disse, numa referência às atividades e oficinas que são desenvolvidas especificamente para o público mais jovem.

Das suas memórias, recorda que essa ida anual à feira do livro com os pais servia para comprar os livros que ela e o irmão iriam ler durante o ano seguinte.

Manifestando otimismo no futuro, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina afirmou estar este ano à espera de ainda maior afluência à feira do livro do que a que se verificou em 2018, ano em que bateu o recorde de visitantes.

Acreditando nesse crescimento, o autarca afirmou que estão garantidas condições para a feira se expandir para as zonas que a APEL “entenda que é bom para o desenho da feira do livro se expandir”.

“O Parque Eduardo VII durante este período é todo para a feira do livro e todo o bom aproveitamento que aqui possa ser feito, será feito”, assegurou.

Mais verde, mais inclusiva e maior do que nunca

A edição deste ano decorre até 16 de junho e conta com 25 novos participantes, 32 novos pavilhões e mais 10 marcas editoriais, o que se traduz em mais dois mil metros quadrados de espaço ocupado, principalmente em zonas relvadas, do lado esquerdo da Alameda do Parque.

Outras novidades são o aumento das “praças editoriais”, ou seja, praças com pavilhões do mesmo grupo editorial, a abertura da zona do relvado central, com a criação de zonas ‘lounge’, para usufruto do público, e o fim do plástico, tanto nos sacos distribuídos pelas editoras, que serão de papel, como nos utensílios descartáveis da restauração, que são biodegradáveis.

Ainda em matéria de sustentabilidade, na edição deste ano, todo o percurso entre os corredores é forrado por piso reciclável, a ser usado nas próximas edições, feito a partir de 1.800 pneus reciclados, que substitui os mil metros quadrados de alcatifa que todos os anos era colocado no chão.

Numa edição que foi pensada também para pessoas com mobilidade reduzida, serão disponibilizadas cadeiras de rodas e andarilhos, que estarão ao dispor de quem necessite, no pavilhão de informações da APEL.

A feira vai estar este ano mais acessível também, graças a um espaço para parqueamento e manutenção de bicicletas que foi criado.

No que respeita à restauração, a oferta será mais diversificada, com oito novas opções numa total de 42 disponíveis.

Outra novidade é a existência de pontos para carregamento de telemóvel, mantendo-se a aplicação móvel gratuita “Feira do Livro de Lisboa”, para Android e iOS, que já existia e através da qual o utilizador pode aceder ao mapa e pesquisar a programação da feira, e WI-FI gratuito nas principais praças do recinto.

Mantêm-se também as atividades para crianças diversificadas – como leituras, oficinas e a iniciativa “Acampar com Histórias”, com pernoita na Estufa Fria -, os espaços para bebés, o RefresCão, e a iniciativa Hora H, que continua com os descontos mínimos de 50%, em livros lançados há mais de 18 meses.

A Hora H funciona de segunda a quinta-feira, na última hora da feira, ou seja, entre as 21:00 e as 22:00, mantendo-se, assim, a antecipação da hora de fecho, das 23:00 para as 22:00, decidida na edição anterior.

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