Falando aos jornalistas à saída do Juízo Central Criminal de Lisboa, o defensor dos arguidos suíços no processo BES/GES referiu que aquelas foram algumas das "preocupações" que manifestou ao coletivo de juízes durante a sua exposição introdutória no segundo dia do julgamento que tem como principal arguido o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado.
Segundo Tiago Rodrigues Bastos, sendo Ricardo Salgado o principal arguido e estando os outros arguidos "acusados em co-participação" com o antigo presidente do BES, tal facto "não é inócuo para o resto das defesas", exigindo uma "avaliação" e uma "reflexão" por parte do coletivo de juízes.
Questionado sobre se estava a sugerir que a impossibilidade de Ricardo Salgado se defender teria um "efeito dominó" nos restantes arguidos, Tiago Rodrigues Bastos não respondeu, referindo apenas que face à situação de Ricardo Salgado e às implicações que isso possa ter, há que "encontrar uma solução".
Segundo o advogado, deve ser "avaliado e ponderado como o sistema pode reagir a uma situação destas".
O advogado não quis aprofundar quais seriam em concreto as implicações do estado de saúde de Ricardo Salgado na defesa dos restantes arguidos, justificando que não quer "discutir essa ideia na praça pública" e que não quer "fazer teoria jurídica à porta do tribunal".
Tiago Rodrigues Bastos reiterou ainda que existe uma "grande pressão" dos media e da opinião pública sobre este julgamento, criticando a forma como alguns comentadores de televisão têm abordado o tema.
O advogado frisou que ninguém pode ter a pretensão de conhecer todos os documentos deste megaprocesso, cujo "acervo é brutal" e rejeitou a ideia que este seja o "julgamento do regime". Criticou ainda que na acusação conste o crime de associação criminosa porque isso é o mesmo que dizer que o objeto social das pessoas ligadas ao BES seria a prática de crimes.
O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.
Entre os crimes imputados contam-se um de associação criminosa, 12 de corrupção ativa no setor privado, 29 de burla qualificada, cinco de infidelidade, um de manipulação de mercado, sete de branqueamento de capitais e sete de falsificação de documentos.
Além de Ricardo Salgado, estão também em julgamento outros 17 arguidos, nomeadamente Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.
Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.
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