Com chegada marcada para as 8 da manhã, o catamarã "La Vagabonde", onde Greta Thunberg se encontrava, atracou na Doca de Santo Amaro às 12:45 horas, perante mais de uma centena de pessoas de todas as idades que esperaram pela jovem ativista durante toda a manhã, assim como um batalhão de jornalistas, muitos deles de órgãos de comunicação social espanhóis.
O atraso da chegada ter-se-á devido às marés que puxaram o barco no sentido contrário ao seu rumo e à navegação feita exclusivamente à vela.
Greta Thunberg deu então uma pequena conferência de imprensa depois de discursos do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, dos organizadores da receção e de membros da tripulação.
Agradecendo a todos os presentes, Greta disse-se honrada por ter chegado a Lisboa e pelo acolhimento que lhe foi dado. “Após uma viagem destas, em que tivemos três semanas isolados num espaço tão limitado e com tão poucas coisas para fazer, é normal que estejamos relaxados, pois estivemos desligados de tudo mais", refere a ativista, dizendo-se um pouco "assoberbada", mas que foi um sentimento “fantástico”.
“Eu e os outros ativistas ambientais não iremos parar, iremos continuar a fazer tudo ao nosso alcance”, prometeu a ativista, em vésperas de se deslocar à cimeira ambiental COP25, realizada em Madrid, onde constarão mais de 200 líderes mundiais. "Iremos continuar lá a luta, para garantir que dentro dessas instalações sejam ouvidas as vozes das pessoas e da geração futura", prometeu Greta.
Dizendo ser necessário "trabalhar em conjunto para garantir que estamos a salvar a vida da humanidade”, Greta Thunberg lançou um apelo de urgência: "todos têm de fazer tudo o que puderem para garantir que ficam no lado certo da história”, avisou. Mesmo sendo possível que não saia "nada de concreto" desta cimeira, "tal como aconteceu nas reuniões anteriores”, a ativista diz que “isso nunca será razão suficiente para não fazermos tudo o que estiver ao nosso alcance para provocar uma reação”.
Questionada quanto aos seus planos no COP25, a ativista diz que o que ela e outros ativistas jovens estão a "exigir são passos claros". “Não nos compete a nós, as crianças, os adolescentes, apresentar qualquer tipo de plano para garantir o nosso futuro", esclareceu, sendo que "as pessoas com poder têm de dar ouvidos aos cientistas." Quanto a esse aspeto, Greta disse que o movimento que ajudou a criar tem a capacidade real para promover mudança. “As pessoas subestimam a força das crianças zangadas”, afirmou.
Porém, perante as críticas de que o meio de transporte que escolheu para viajar entre a Europa e as Américas, por navegação, é caro e pouco prático, Greta defendeu não querer "dizer a ninguém como deve viajar”. “Não estou a fazer esta viagem porque quero que todos o façam, estou a fazê-lo porque é uma mensagem, é um símbolo”, disse a ativista, sublinhando, contudo, que "é impossível progredirmos se não houver sustentabilidade” e que "é claro que há alternativas mais sustentáveis" a viajar de avião.
Greta Thunberg recusou-se a ainda a comentar os esforços de Portugal quanto a tornar-se primeiro pais a tentar almejar a neutralidade carbónica, dizendo não conhecer o caso em concreto e apontando que "nenhum país no mundo está a fazer o suficiente".
A jovem ativista respondeu a perguntas durante cerca de 20 minutos, perante muitas dezenas de jornalistas de vários países, especialmente de Espanha. E voltou depois para o “La Vagabonde”.
Antes, ouviu o presidente da Câmara de Lisboa agradecer-lhe o ativismo e a “voz forte” para ganhar a batalha das alterações climáticas, e ouviu as jovens ativistas portuguesas Beatriz e Matilde agradecerem-lhe também a inspiração para lutar para tirar “o fogo de casa”, assim como denúncias de que a população da Amazónia está a ser “morta todos os dias”.
Riley Whitelum, o comandante do “La Vagabonde”, afirmou depois que estava orgulhoso de partilhar com Greta Thunberg a aventura de se arriscar a atravessar o oceano nesta altura, de ventos fortes e grandes ondas, e Nikki Henderson, membro da tripulação e marinheira profissional, falou do grande desafio que foi a viagem e de quanto a mudou no que pensava sobre as alterações climáticas.
Inicialmente Greta Thunberg não devia viajar para a Europa neste momento, já que a COP25 estava marcada para o Chile, que à última da hora desistiu da organização devido aos conflitos sociais que estão a acontecer no país e que já provocaram vários mortos.
Por esse motivo a jovem sueca embarcou em 13 de novembro, de regresso à Europa, no catamarã “La Vagabonde”, como forma de evitar os aviões e a sua forte carga poluente. Greta Thunberg atravessou o oceano de barco em setembro passado para participar numa cimeira sobre alterações climáticas em Nova Iorque, convocada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.
De acordo com os organizadores da visita, não está prevista qualquer outra iniciativa da jovem — o que inclui as tentativas feitas de comparecer na Assembleia da República —, devendo viajar nos próximos dias para Madrid, onde decorre a cimeira das Nações Unidas sobre o clima (COP25). Greta participará na conferência climática, que começou na segunda-feira e que junta representantes de quase 200 países, signatários do Acordo de Paris, de redução das emissões de gases com efeito de estufa.
Greta celebrizou-se por todo o mundo por ter iniciado no seu país (Suécia) as greves pelo clima, em protesto pela falta de medidas dos políticos para fazer face às alterações climáticas. Hoje, é uma das vozes mais conhecidas na defesa do ambiente e as greves climáticas que iniciou são agora seguidas por milhões de jovens do mundo inteiro.
Antes da conferência de imprensa, Greta Thunberg foi recebida pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, e pelo presidente da Comissão Parlamentar de Ambiente, José Maria Cardoso, além de ativistas portuguesas da greve climática estudantil.
Em declarações à agência Lusa, José Maria Cardoso destacou, acima de tudo, "o símbolo que ela [Greta] é de mobilização de milhões de jovens pelo mundo fora que querem fazer ouvir a sua voz e que querem mostrar o seu lado reivindicativo".
"Sem dúvida é esta geração que mais vai sofrer com as alterações climáticas, caso não haja reversão da situação", afirmou o parlamentar, acrescentando: "Ela, como símbolo desta contestação, serve de exemplo para muitos jovens".
Também o líder do PAN, André Silva, quis marcar presença na receção à ativista sueca como forma de agradecimento por tudo o que tem feito em defesa do planeta.
"Ela tem sido fundamental para dar voz a este movimento que é cada vez maior, associado a um aumento e alargamento de consciências em torno do combate das nossas vidas, que são as alterações climáticas", disse à Lusa o líder do PAN.
André Silva afirmou ainda que quer deixar a Greta Thunberg "uma palavra de coragem e agradecimento, para que continue a desempenhar este papel fundamental de trazer cada vez mais pessoas e pressionar uma classe política parada, inerte e que está presa à economia velha do passado, à economia do carbono e, acima de tudo, capturada por interesses económicos que não querem alterar".
"É fundamental agir porque temos uma década até atingir um ponto de não retorno", acrescentou.
A representar o movimento "Ação Greve Climática Estudantil", Andreia Galvão afirmou à Lusa que esta ação [a greve climática estudantil], lançada por Greta Thunberg, tem sido fundamental para dar visibilidade aos problemas ambientais.
Andreia Galvão, que também pertence ao movimento "Figther for Future", diz que é igualmente necessário perceber se o novo Governo vai ou não acrescentar algo à luta contra as alterações climáticas.
"Estamos num momento um pouco difícil pela luta pela emergência climática. (...) É importante que os jovens estejam empenhados na política e que façam erguer a sua voz na luta por esta causa", considerou a ativista, salientando que este é um movimento transversal que deve envolver todas as pessoas.
[Notícia atualizada às 17:28]
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