“Não podemos admitir que nos tratem como um grupo de garotos e que brinquem às negociações”, declarou Mário Jorge Neves, dirigente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), um dos dois sindicatos que convocou os dois dias de greve nacional que hoje começou.
Numa conferência de imprensa conjunta para fazer um balanço do primeiro dia de greve, os sindicalistas sublinharam que existe atualmente um bloqueio negocial entre sindicatos e Ministério da Saúde.
Por isso, apelaram ao primeiro-ministro que intervenha e que desbloqueie esta situação para que as negociações possam retomar, mal termine a greve destes dois dias.
“Temos uma situação de impasse e bloqueio e isso tem de ser resolvido pelas mais altas instâncias governamentais”, afirmou Mário Jorge Neves.
Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e FNAM exigem que o ministro da Saúde passe a participar nas reuniões negociais e mostram-se disponíveis para recomeçar a negociar logo que acabe a paralisação, mas dizem que ainda não tiveram qualquer contacto nesse sentido da parte do Governo.
Caso nada ocorra nas próximas duas semanas, os sindicatos dizem que terão de reunir novamente os seus órgãos executivos para decidir novas formas de luta, que admitem endurecer.
Além de uma eventual nova paralisação, há outros meios “sempre em cima da mesa”, como a recusa de horas de trabalho extraordinário além do limite definido ou recusa de fazer urgência no caso dos médicos que já tenham ultrapassado a idade em que podem dispensar o serviço urgente.
O dirigente da FNAM avisa o Governo de que os sindicatos têm “uma elevadíssima capacidade de organização” e pede que não se faça dos dirigentes sindicais “um grupo de garotos”.
Os sindicatos rejeitam pressões do Governo, com Mário Jorge Neves a dizer que numa reunião negocial um dos secretários de Estado da Saúde chegou a dizer que se a greve fosse por diante o processo negocial voltaria à estaca zero.
O secretário-geral do SIM acrescenta que não aceita que se tente “pôr os doentes contra os médicos”, sublinhando que a luta dos médicos “é para bem do Serviço Nacional de Saúde” e para defesa dos utentes.
Para os sindicalistas, os níveis de adesão no primeiro dia de greve mostram que existe “um enorme mal-estar e uma indignação crescente” entre os médicos.
Os dois sindicatos estimam níveis de adesão próximos dos 90%.
Consultas e cirurgias programadas devem ser as mais afetadas nestes dois dias de greve, com os profissionais a cumprirem obrigatoriamente os serviços mínimos, que contemplam as urgências, quimioterapia e radioterapia ou transplantes.
Limitação do trabalho suplementar a 150 horas anuais, em vez das atuais 200, imposição de um limite de 12 horas de trabalho em serviço de urgência e diminuição do número de utentes por médico de família são algumas das reivindicações sindicais.
Os sindicatos também querem a reposição do pagamento de 100% das horas extra, que recebem desde 2012 com um corte de 50%. Exigem a reversão do pagamento dos 50% com retroatividade a janeiro deste ano.
Contactada pela agência Lusa, fonte do gabinete do ministro da Saúde disse que, para já, não serão avançados dados oficiais sobre a adesão do protesto.
O Ministério da Saúde tem dito que não negoceia sob pressão e considera-se empenhado no diálogo com os sindicatos médicos.
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