Professora há 29 anos, Rosália disse que os docentes se sentem “cansados, desiludidos e roubados” e, como tal, há muitos que, se pudessem, aceleravam o relógio do tempo, não se importando nada de ficarem velhos mais cedo só para chegarem à reforma e se “livrarem do calvário em que se tornou a profissão”.

“É triste, mas é verdade. Vejo colegas que estão muito felizes por envelhecerem, porque assim ficam mais perto da idade da reforma. E quando assim é, está tudo dito”, referiu.

Ao pescoço, Rosália carregava um cartaz com as principais “dores” da classe docente, surgindo no topo a palavra “respeito”.

A seguir, lia-se “justiça”, “segurança”, “contagem total do tempo de serviço” e “extinção das quotas”.

“Gostamos de ensinar, não perdemos a vocação, de todo, mas aos poucos a paixão vai-se perdendo”, lamentou.

Disse que, por esta altura, deveria estar “à porta” do 10.º escalão, mas ainda só vai no 6.º.

Falou numa avaliação injusta, numa classe docente “maltratada”, numa escola pública “deixada para trás” durante décadas e décadas a fio.

“Será que quem nos governa não entende que temos o futuro de Portugal nas nossas mãos?”, questionou.

Os professores estão a cumprir, desde segunda-feira, uma greve por distritos, sendo hoje o dia de Braga.

Pais, alunos e docentes concentraram-se, logo pela manhã, junto à Escola Básica de Lamaçães, por entre cânticos e palavras de ordem em defesa da escola pública.

“Um país que põe a escola em último nunca estará em primeiro”, lia-se no maior cartaz da manifestação.

Outros cartazes aludiam aos 6 anos, 6 meses e 23 dias “roubados” ao tempo de serviço dos professores, à falta de material nas escolas e às dificuldades no pagamento das rendas dos docentes deslocados.

A exemplo de Rosália Camarinha, também Lurdes Veiga, do Sindicato dos Professores do Norte, disse que “respeito” é a palavra-chave.

“Apenas queremos que nos deixem ser professores, mas não nos deixam”, referiu.

Frisou que “ainda não há negociações” entre sindicatos e Governo, “mas apenas um papel que o ministro colocou em cima da mesa”.

“Não é um qualquer papel que serve, tem de haver uma negociação séria. Os problemas são muitos, há toda uma montanha que é preciso escalar e é preciso que sejam dados passos firmes”, disse ainda a sindicalista.