Em declarações aos jornalistas no final de uma reunião convocada unilateralmente pelos representantes dos motoristas, Francisco São Bento, presidente do sindicato, considerou que nesta fase "o melhor caminho será requerer a mediação do governo. Cabe agora ao governo tentar colocar-se à mesa com a Antram e fazer a mediação", disse.

Em causa, explicou, estão reuniões bipartidas, já que os patrões não se mostraram disponíveis para regressar à mesa das negociações enquanto a greve se mantiver.

Miguel Cabrita, secretário de Estado do Emprego, confirmou à saída do encontro que o Governo vai acionar o mecanismo de mediação, lembrando que este já tinha sido colocado "à disposição das partes" há uma semana.

O Governo vai “nomear um mediador que contactará a Antram para avaliar a disponibilidade para tirar partido deste processos e mediação”, avançou Miguel Cabrita, reforçando que "o importante é que haja uma real vontade de dialogar".

Francisco São Bento, acompanhado do advogado e porta-voz Pedro pardal Henriques, fizeram-se ainda acompanhar de uma terceira pessoa que classificaram como um "amigo consultor", Bruno Fialho, um dirigente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil.

"A presença do Bruno Fialho nesta reunião (...) veio trazer contributos: a experiência do sindicalismo, a experiência na resolução de conflitos", esclareceu Pardal Henriques quando questionado pelos jornalistas sobre a razão da presença de um elemento externo.

O presidente do sindicato fez questão de salientar que "os portugueses merecem saber que o sindicato está empenhado a resolver este conflito e todo o apoio que puder surgir é bem-vindo", acrescentando que estarão disponíveis "todo o dia e toda a noite" caso a Antram mude de posição e deseje voltar a negociar.

Apesar desta abertura, o sindicato dos motoristas de matérias perigosas adianta que "a greve vai manter-se até que este conflito esteja resolvido. Mas o sindicato está convicto de que vai conseguir resolver isto de forma célere e agora com este requerimento compete ao governo trazer a Antram para a mesa das negociações". "A greve será desconvocada assim que o conflito estiver resolvido", disse Francisco São Bento.

Questionado sobre a possibilidade de Pardal Henriques se afastar das negociações para facilitar a comunicação com a Antram, o próprio esclareceu que a sua presença "vai continuar enquanto o sindicato entender que esta presença é importante".

Relativamente ao acordo alcançado na quarta-feira entre a Antram e a federação dos sindicatos de transportes Fectrans, que as duas estruturas esclareceram hoje que representa aumentos mínimos de 140 euros para motoristas indiferenciados e 266 euros para motoristas de matérias perigosas, Pedro Pardal Henriques disse não comentar acordos em que o SNMMP não interveio.

"Mais uma vez, em menos de um ano, vai-se assinar um contrato coletivo de trabalho à revelia dos trabalhadores", reiterou Francisco São Bento.

Os motoristas de transportes de matérias perigosas e de mercadorias cumprem hoje o quarto dia de uma greve por tempo indeterminado, que levou o Governo a decretar uma requisição civil na segunda-feira à tarde, alegando incumprimento dos serviços mínimos.

A greve foi convocada pelo Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e pelo Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), com o objetivo de reivindicar junto da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) o cumprimento do acordo assinado em maio, que prevê uma progressão salarial.

(Notícia atualizada às 19h28)