Enfermeiros de blocos operatórios de cinco hospitais públicos iniciaram hoje uma greve às cirurgias programadas, que termina a 31 de dezembro, e que pode adiar ou cancelar milhares de operações.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Alexandre Lourenço, afirmou que a duração da greve, que termina no dia 31 de dezembro, coloca “um grave problema” aos hospitais e aos doentes.

“O impacto que essa duração pode ter sobre a saúde dos portugueses é bastante grave. Felizmente, os serviços mínimos foram garantidos para as áreas da oncologia, mas existem outras cirurgias que vão sofrer adiamentos”, disse Alexandre Lourenço.

A expectativa dos administradores hospitalares é que “os profissionais de saúde, nomeadamente os sindicatos, e o Governo cheguem a um acordo para que esta greve venha a ser cancelada”.

Alexandre Lourenço sublinhou que este acordo “estabilizaria os hospitais”, lembrando que os hospitais do Serviço Nacional de Saúde já vivem, “há algum tempo, períodos de instabilidade laboral”.

“Este ano será talvez o ano com o maior número de greves no SNS e era muito importante, não só na área da enfermagem, mas também na área médica, dos técnicos de diagnóstico e terapêutica e dos farmacêuticos que existisse uma estabilização das relações laborais para que os hospitais e os profissionais se consigam concentrar naquilo que sabem fazer que é prestar cuidados de saúde à população, que tanto desses cuidados necessitam”, frisou.

Questionado pela Lusa sobre os mecanismos que os hospitais irão utilizar para minimizar o impacto do adiamento das operações, o presidente da APAH reconheceu que, numa paralisação “tão longa”, é “muito difícil” aplicar as soluções utilizadas noutras greves.

“Considerando que a greve tem esta duração, é muito difícil conseguirmos ter mecanismos automáticos como fazemos em outras greves” para minimizar os impactos sobre os doentes e as famílias.

Uma das estratégias utilizadas passa pela remarcação da cirurgia imediatamente após a greve, em “estreita colaboração com os profissionais de saúde e muitas vezes até sobrecarregando” a sua atividade, adiantou Alexandre Lourenço.

A greve foi convocada pela Associação Sindical Portuguesa de Enfermeiros (ASPE) e pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), embora inicialmente o protesto tenha partido de um movimento de enfermeiros que lançou um fundo aberto ao público que recolheu mais de 360 mil euros para compensar os colegas que aderirem à paralisação.

Segundo o presidente do Sindepor, Carlos Ramalho, os blocos de cirurgias programadas dos cincos hospitais públicos estão todos parados, demonstrando “o grande descontentamento” dos profissionais.

Apenas estão a funcionar os serviços mínimos nos blocos operatórios para as cirurgias de urgência, que estão a ser asseguradas por enfermeiros em greve, disse à Lusa Carlos Ramalho.

Os enfermeiros reivindicam uma carreira transversal a todos os tipos de contratos e uma remuneração adequada às suas funções.

A greve abrange os blocos operatório do Centro Hospitalar Universitário de S. João (Porto), do Centro Hospitalar Universitário do Porto, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e do Centro Hospitalar de Setúbal.