O projeto, que dá pelo nome de ‘Orquídea Silvestre’, vai ser apresentado na sexta-feira, dia 22, em Lisboa, e resulta da junção de várias ideias e vontades, de pessoas tão diferentes como um músico ou um engenheiro, preocupadas com a crescente falta de recursos, a escassez de água, o abandono da terra ou a desertificação.
Em declarações à agência Lusa, Gil Bizarro, coordenador do projeto, explicou que foi durante o ano passado, na sequência da seca extrema que assolou Portugal, que começou “a pensar que as coisas não estavam bem” e no que poderia fazer para conseguir uma mudança.
Gil é músico, a namorada bailarina, e juntos tiveram a ideia de criar um espaço onde as pessoas pudessem cultivar, mas que, ao mesmo tempo, tivesse um lado de “cultura viva” porque “sem a parte da cultura e do entretenimento, o campo é um sítio severo”.
Começa à procura de um terreno quando ouve falar no nome de José Parreira, proprietário no Baixo Alentejo, o “sítio mais desértico do país, não só a nível climático, mas também social”, explicou Gil.
Da conversa com José, que tem um terreno de cerca de 140 hectares na zona de Aljustrel, Gil fica a saber que um grupo de sírios já havia tido uma ideia semelhante e tinha inclusivamente visitado o terreno.
“Pensei em falar com estas pessoas e juntar-me a elas para não fazer este projeto sozinho e foi aí que conheci o Fayez, que é quase o núcleo deste projeto porque sem ele seria quase impossível”, adiantou Gil.
Fayez Karimeh é sírio, nascido em 1965 numa pequena e “muito antiga” vila próxima da capital Damasco, “muito famosa pelo turismo cultural e pela agricultura”. Testemunhou de perto as consequências das secas severas e da falta de água, como o abandono da agricultura e o êxodo para outras cidades ou mesmo para fora do país, incluindo a própria família.
Estudou engenharia na antiga União Soviética, tendo-se especializado no tratamento de águas, e é lá que, juntamente com um investidor, cria um projeto para aproveitamento das águas residuais na agricultura, numa cidade no meio do deserto.
Chega a Portugal em 2014 com uma proposta de trabalho e mais tarde conhece Gil, a quem se junta na ideia de construir uma ecovila assente no princípio da autossustentabilidade, mas que também sirva para integrar pessoas refugiadas.
Fayez lembra como muitos refugiados sírios que vieram para Portugal acabaram a residir em Lisboa, mas não têm trabalho, nem falam a língua, apesar de serem pessoas com variadas qualificações.
“Muitos gostam da ideia e querem ir trabalhar connosco, seja na agricultura ou na construção das casas”, garantiu.
De acordo com Fayez, este é um projeto que tem uma vertente económica, já que têm de criar formas de produzir para consumo, mas também para venderem, além de uma vertente social “muito importante”, já que “estarão integrados com a população local” e porque serão “produtores e não só consumidores”.
A primeira fase do projeto está prestes a arrancar e pressupõe que tanto Gil, como Fayez e outras quatro pessoas, vão viver para o tal terreno em Aljustrel e comecem a criar as condições para que outros se lhes juntem.
Para isso servirá a apresentação pública do projeto, na sexta-feira, no Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes, do Alto Comissariado para as Migrações (ACM), já que é preciso chamar a atenção de quem esteja disposto a investir financeiramente.
Serão precisos entre 12 mil a 15 mil euros para, nos próximos seis meses, criarem as bases da autossustentabilidade, aplicando esse dinheiro em água e eletricidade para implementarem um sistema de rega e começarem a cultivar, além de começarem com a construção de habitações.
Já fizeram contactos com a autarquia de Aljustrel, que está disposta a ajudar, e até com as Nações Unidas, e pretendem candidatar-se a todos os fundos europeus que existam, mas, para já, a perspetiva é ir sem qualquer apoio.
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