"O gelo é um poço de informação", explica à AFP Jérôme Chappellaz, diretor de pesquisa no Laboratório de Glaciologia e Geofísica do Meio Ambiente (LLGE) de Grenoble, França. As bolhas de ar e impurezas dos blocos de gelo carregam informações muito valiosas sobre as condições atmosféricas verificadas há séculos ou mesmo há milhares de anos atrás.
Foi assim que os investigadores conseguiram estabelecer o vínculo entre as temperaturas e os gases do efeito estufa. Em Mont Blanc (ou Monte Branco), os investigadores vão poder estudar, em particular, a evolução da poluição ou da atividade industrial a nível europeu ao longo de cem anos.
No total, doze especialistas franceses, italianos e russos vão passar vários dias a 4.300 metros de altitude num maciço dos Alpes franco-italianos para extrair três barras de gelo de 140 metros de comprimento.
Uma das amostras será analisada no laboratório de Grenoble. O objetivo é construir uma base de dados aberta a todos os cientistas.
As outras duas amostras irão para a base franco-italiana de Concordia, na Antártica, em 2019 e 2020, onde serão conservadas numa cova de neve, "um congelador natural a -50ºC", a salvo de problemas elétricos. O objetivo é preservar durante séculos "a memória do gelo", uma “matéria-prima" extremamente valiosa para os cientistas.
Na primeira metade de 2017 está prevista outra operação similar em Illimani, na Bolívia, a 6.300 metros de altitude, em condições muito mais difíceis. Nos próximos dez anos, os investigadores esperam extrair vinte amostras de todos os continentes.
Corrida contra o tempo
Jérôme Chappellaz acredita que com o desenvolvimento tecnológico será possível, dentro de algumas décadas, detetar muitas outras coisas neste tipo de amostras, como por exemplo mapear as mutações dos vírus ou das bactérias. Em cinquenta anos, "talvez existam as ferramentas necessárias para analisar, mas pode ser que já não tenhamos as amostras de gelo", teme o investigador.
Parte da dificuldade está no tempo de vida das geleiras naturais, uma vez que estas evoluem e fundem-se rapidamente.
O gelo a menos de 3.500 metros de altitude nos Alpes desaparecerá antes do fim do século XXI. Nos Andes, a geleira de Chacaltaya, na Bolívia, situada a 5.300 metros, desapareceu em 2009.
“Este ano, fundiu-se gelo a 6.000 metros de altitude no Illimani, devido ao fenómeno do El Niño", explica Patrick Ginot, do Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento, e um dos promotores deste projeto.
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