“Temos jovens e crianças, especialmente nas escolas fronteiriças (com a Colômbia), que não recebem a educação que deveriam receber e os pais não têm as condições mínimas para dar-lhes alimentação e o transporte para ir à escola e que estão sendo captadas por membros das forças de Libertação Nacional (Exército de Libertação Nacional da Colômbia) e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, para serem levadas para a guerrilha”, denunciou a presidente da FAPUV.
Lourdes Ramírez Vilória falava à agência Lusa, em Caracas, quando se preparava para participar em mais uma jornada de protesto contra o Governo venezuelana.
“Este regime causou a pior destruição da educação (…) chegámos a uma situação tão grave que acabaram os programas alimentares que tínhamos para os nossos filhos e o transporte. Temos crianças que desmaiam nas escolas, jovens que não comem nas universidades, porque o regime acabou com tudo isso”, acusou.
A dirigente denunciou que os venezuelanos vivem em “pobreza extrema” e que um professor universitário recebe diariamente 1,50 dólares (1,35 euros), “o que segundo a ONU é pobreza extrema”.
“Não só não temos como alimentar nossa família, como esta situação diminuiu a qualidade da educação, a todos os níveis (…) professores, alunos e trabalhadores, são obrigados a migrar e muitos jovens abandonaram os estudos para viver da economia informal”, acrescentou.
A professora insistiu que os venezuelanos devem continuar a pressionar o regime, defendendo direitos fundamentais como a educação de qualidade, a saúde gratuita e um emprego decente ou terão que “entregar o que fica do país” ao regime ou emigrar, o que, no seu caso, se recusa a fazer.
“Temos motivos para protestar todos os dias, pelo nosso trabalho, pela saúde e educação, mas também porque os serviços básicos de eletricidade, água potável e transporte não funcionam, porque há comunidades que podem passar até dois meses sem receber uma gota de água em casa e têm que procurar água contaminada de diferentes depósitos”, criticou Lourdes Ramírez Vilória.
Outra professora, Jacqueline Richter, disse à agência Lusa que a sua formação é equivalente a um professor catedrático, na Europa, mas que o seu salário é inferior a 20 dólares (18 euros) mensais.
“Manifesto-me diariamente porque no meu país há crianças a morrer de fome. Porque os anciãos hipertensos têm que pagar entre 60 e 70 dólares pelos medicamentos. Porque há mais de 400 pessoas presas por motivos políticos, por expressarem as suas opiniões”, acusou.
Jacqueline Richter acrescentou que um dirigente sindical, Ruben González, foi julgado por um tribunal militar e condenado a cinco anos de prisão, por defender os trabalhadores da empresa estatal ferro-mineira.
“Estou cansada de não poder sair tranquilamente às ruas, sem ser rodeada por malandros e ladrões”, apontou.
Esta professora diz esperar “uma saída democrática” para a crise no país, “que o Presidente (Nicolás Maduro) entenda que é necessário contar-se (os votos), ir para eleições livres, com um novo Conselho Nacional Eleitoral, composto por pessoas honradas e imparciais”, e que o país volte a ser plural em ideias, como era antes.
Professora da Universidade Central da Venezuela (UCV), esta venezuelana explicou que fez carreira “numa universidade pública, mas democrática e plural”.
“Espero que no dia de amanhã, pelo simples facto de não estar de acordo com o Presidente da República (Nicolás Maduro), não me chamem apátrida, pró-ianque, vendida ao imperialismo e espero poder expressar-me livremente, que os meus filhos e netos cresçam num país com liberdade”, frisou Jacqueline Richter.
Para esta professora, cada vez mais os venezuelanos saem às ruas e isso constitui “um desafio porque a polícia dispara” contra os manifestantes, recordando que tem havido marchas que terminaram “com muitos jovens assassinados e muita repressão”.
Por exemplo, na UCV, quando se estavam a concentrar “chegaram mais de 400 polícias” que obrigaram os professores a abandonar uma praça pública, dizendo que não estavam autorizados e os cercaram.
“Espero que no dia de amanhã qualquer pessoa possa sentar-se numa praça pública, reclamar os seus direitos, sem que um polícia lhe diga que não pode estar aí”, concluiu.
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