“É fundamental que os Estados Unidos mantenham o empenhamento multilateral, sobretudo em relação às situações internacionais que exigem uma resposta global, na qual os EUA terão sempre uma influência determinante”, declarou António Guterres, no final de um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, no Palácio das Necessidades, em que foram debatidos temas relacionados com a próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, nomeadamente no que concerne à reforma da ONU.

Guterres advertiu que “na medida em que os EUA não estejam presentes em áreas essenciais da comunidade internacional, esse espaço vazio acabará por ser ocupado por outros”, o que considerou ser contrário aos próprios interesses dos Estados Unidos.

Questionado sobre o trabalho com a administração norte-americana, liderada por Donald Trump, o responsável das Nações Unidas respondeu que “não está a ser mais difícil do que estava previsto”.

“Temos mantido um diálogo construtivo com a administração americana, procurando evitar que se afastem da resposta multilateral às grandes questões”, disse, reconhecendo que esse trabalho nem sempre tem tido êxito, como no caso dos acordos de Paris sobre alterações climáticas, que os EUA pretendem abandonar.

Por outro lado, António Guterres sublinhou que quer a administração norte-americana quer o Congresso têm dado “um apoio muito forte” à reforma das Nações Unidas, que procuram torná-la numa organização “mais eficaz e com maior rentabilidade em relação aos recursos postos à sua disposição”, respondendo aos interesses dos Estados Unidos, mas também de “todos os que dão uma contribuição financeira importante” para a ONU.

Sobre a reforma, o líder da ONU referiu que se pretende “uma alteração profunda dos processos e dos métodos de trabalho”.

Guterres adiantou que apresentará esta terça-feira ao Conselho Económico e Social das Nações Unidas “o primeiro documento sobre a reforma do sistema de desenvolvimento” da organização.

Além disso, a Assembleia-Geral já aprovou a reforma da estrutura do contraterrorismo, e já está a ser concretizada a reforma em relação às questões da exploração sexual e dos abusos, referiu, acrescentando que o plano de ação sobre a paridade está a ser implementado.

“Apresentaremos durante o mês de agosto aos Estados-membros o projeto de reforma da arquitetura de estruturas de paz e de segurança e o projeto de reforma de gestão, que tem a ver todas as regras de gestão, financeiras, orçamentais e de pessoal e com a estrutura de gestão das Nações Unidas”.

António Guterres diz que tem mantido "contacto assíduo" com mediadores da Venezuela

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou hoje que tem mantido "um contacto muito assíduo" com os mediadores internacionais da crise na Venezuela, sublinhando que os trabalhos visam "evitar uma situação ainda mais trágica" naquele país.

"Tenho mantido um contacto muito assíduo com o grupo dos três negociadores [José Luís Rodriguez Zapatero, de Espanha, Martin Torrijos, do Panamá, e Leonel Fernandez, da República Dominicana], com a própria Santa Sé e com vários países da região", disse Guterres, no decorrer de uma conferência de imprensa conjunta com o MNE português, Augusto Santos Silva, em Lisboa.

Guterres recordou que as "as Nações Unidas não estão empenhadas diretamente na mediação", sublinhando que tal "teria, aliás, de ser aceite pelas partes".

"Mas temos acompanhado com muito interesse todos os trabalhos que têm sido desenvolvidos, no sentido de evitar uma situação trágica, ou ainda mais trágica, na Venezuela. O nosso empenhamento é o de facilitar todas as ações que possam levar à redução da tensão e criar condições para um diálogo eficaz que permita estabilidade para a própria Venezuela", realçou o secretário-geral da ONU.

"Naturalmente", concluiu Guterres, "é com grande preocupação que vemos que a situação não tem melhorado, antes pelo contrário, nos tempos mais recentes".

Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, reiterou que a ação do Governo português tem dado prioridade a "assegurar, junto das autoridades venezuelanas, as condições de segurança e bem-estar da comunidade luso-descendente", bem como "a reparação dos prejuízos que os comerciantes portugueses têm sofrido por causa de distúrbios e saques".

O Governo português, completou Santos Silva, também tem procurado "intensificar a proteção consular e o contacto dos consulados com as comunidades luso-descendentes" na Venezuela, não só em Caracas e Valência, como noutros pontos do país caribenho.

A Venezuela encontra-se mergulhada numa grave crise política que opõe o Presidente do país, Nicolás Maduro, ao parlamento, dominado pela oposição.

Os protestos intensificaram-se no princípio de abril, com a oposição a convocar manifestações para exigir a destituição de magistrados do Supremo Tribunal devido à decisão de assumir as funções do parlamento, a qual foi revertida pouco tempo depois, bem como eleições antecipadas e a libertação de presos políticos e do fim da repressão.

As manifestações agravaram-se com o anúncio, no início de maio, do arranque do processo de criação de uma Assembleia Constituinte para reformar a Constituição, como a única forma de garantir a paz.

A oposição qualificou essa decisão de golpe de Estado e como uma forma de Maduro conseguir perpetuar-se no poder.

A eleição da Assembleia Constituinte está marcada para o próximo dia 30.

Desde o início da onda de protestos, há três meses, foram registados pelo menos 85 mortos, de acordo com o mais recente balanço do Ministério Público venezuelano.

[Notícia atualizada às 14:21]