"Exploração e abuso sexual não têm lugar no nosso mundo. É uma ameaça global e tem de acabar. Estamos aqui para uma ação arrojada, urgente e muito necessária que erradique a exploração e abuso sexual nas Nações Unidas de uma vez por todas", disse o secretário-geral, que falava num encontro de alto nível sobre os casos de abuso sexual que foram cometidos por funcionários e forças da ONU.

Uma investigação recente descobriu cerca de duas mil denuncias em países como o Congo, Haiti ou República Centro Africana, sendo que cerca de 300 destes casos foram cometidos contra crianças.

O secretário-geral esclareceu, no entanto, que a maioria destes abusos não foram cometidos pelas forças de manutenção de paz da ONU.

"Contrariamente à informação disseminada de que é uma questão relacionada com as nossas operações de paz, é preciso dizer que a maioria dos casos de exploração e abuso sexual foram cometidos dentro das organizações civis das Nações Unidas", esclareceu Guterres, dizendo que "é um problema da ONU enquanto um todo."

O antigo primeiro-ministros português pediu que "os atos indizíveis de uns poucos não manchem o trabalho de milhares de homens e de mulheres que honram os valores da Carta das Nações Unidas, frequentemente com grande risco e sacrifício pessoal".

António Guterres lembrou depois alguns dos passos tomados para combater estes casos e mencionou o seu primeiro discurso como secretário-geral, em que prometeu uma política de "tolerância zero", o primeiro relatório publicado quando chegou ao cargo, que enumerava as grandes prioridades de ação, e a criação de uma força de trabalho.

"Na minha primeira semana no cargo, estabeleci uma força de trabalho de alto nível para desenvolver novas propostas de prevenção e resposta à exploração e abuso sexual cometida por aqueles que servem a ONU", lembrou.

Durante o encontro, foi também anunciado que Jane Connors, uma especialista australiana, será a primeira Defensora dos Direitos das Vitimas da ONU.

Guterres disse que o novo cargo será critico para proteger as vítimas, apoiar o seu recurso à justiça e que Connors vai criar um conjunto de mecanismos e políticas que facilitem a apresentação de queixas.

Os Estados-membros estão também a trabalhar num compacto voluntário sobre o tema e foi estabelecido um "círculo de liderança" em que os chefes de Estado e de Governo podem "mostrar determinação e compromisso ao mais alto nível para lutar contra este flagelo".

Durante o seu discurso, Guterres anunciou também um novo painel de conselheiros com representantes da sociedade civil, dizendo que "estas organizações estão frequentemente na linha da frente na proteção de crianças e prestam assistência crucial em comunidades vulneráveis."

"Há muito trabalho para fazermos juntos. Mas saímos daqui com uma mensagem inequívoca: não vamos tolerar ninguém que cometa ou tolere exploração e abuso sexual. Não vamos deixar que ninguém encubra estes crimes na ONU. Todas as vitimas merecem justiça e apoio total. Juntos, vamos cumprir essa promessa", concluiu António Guterres.