Desconhecido da grande maioria da opinião pública, Paulo Raimundo substituiu Jerónimo de Sousa como secretário-geral do PCP em 13 de novembro de 2022, na Conferência Nacional do partido organizada em Corroios, distrito de Setúbal, tornando-se no quarto líder comunista desde o 25 de abril de 1974.

Nos seus primeiros 100 dias à frente do partido, que se assinalam esta segunda-feira, Paulo Raimundo percorreu quase todos os distritos de Portugal continental (só não foi à Guarda), e desdobrou-se em dezenas de entrevistas a órgãos de comunicação social.

Em contactos com trabalhadores, manifestações ou audições públicas, o novo secretário-geral do PCP tem pautado as suas intervenções com críticas à maioria absoluta do PS - que associa aos partidos de direita (PSD, Chega, IL e CDS) -, considerando que está a levar a cabo uma “política de empobrecimento” do país.

Com as primeiras semanas do seu mandato marcadas por sucessivos casos no Governo - que levaram à demissão do ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, e de vários secretários de Estado -, Paulo Raimundo considerou que essas polémicas interessam sobretudo aos partidos de direita, para “fingirem oposição” ao executivo enquanto se “alinham perfeitamente” nas suas opções políticas de fundo.

Em contraponto, Paulo Raimundo referiu que, apesar de condenar essas práticas, para o PCP, “mais do que 'o protagonista A, B ou C', o que interessa são as políticas de fundo e a não resposta do Governo aos problemas das pessoas”.

Apesar de, numa entrevista ao Diário de Notícias, ter admitido integrar um Governo do PS - caso haja uma “política alternativa, patriótica e de esquerda” -, Paulo Raimundo tem defendido que os socialistas têm privilegiado os interesses dos grandes grupos económicos, não respondendo aos “problemas fundamentais da população”.

As críticas de Paulo Raimundo têm-se estendido à posição do Governo perante a guerra na Ucrânia, acusando o primeiro-ministro, António Costa, de estar a “meter gasolina na fogueira” e apelando a que se “empenhe no processo de paz”.

Nas últimas semanas, os avisos do novo secretário-geral do PCP têm subido de tom, alertando para uma “situação social explosiva” a que o Governo precisa de dar resposta, sob pena de a população “ter de reagir”.

“Ou há resposta política por parte do Governo para resolver o problema da maioria das pessoas, ou então as pessoas têm de agir de forma mais acentuada a esta política. (…) O Governo, das duas, três: ou cede, no bom sentido de dar resposta, ou então não tem alternativa senão sair”, advertiu, em 30 de janeiro.

Perante este cenário, o novo líder comunista tem multiplicado as presenças em manifestações, reafirmando que o PCP é um “partido de protesto” perante uma política de direita.

Simultaneamente, Raimundo tem também apelado ao “reforço do partido”, pedindo aos militantes que “tomem a iniciativa” e não esperem que lhes “batam à porta”.

Desde logo, em entrevista à Lusa poucos dias depois de tomar posse, Paulo Raimundo assumiu que alguns renovadores que deixaram o PCP em 2022 “fazem muita falta, porque as suas opiniões são válidas para construir um partido” que se quer “mais forte”.

No entanto, o líder comunista ‘suavizou’ posteriormente estas suas declarações, afirmando que o que pretendia era deixar um apelo às pessoas que saíram ou se afastaram do PCP “por se chatearem por esta ou aquela posição do partido” e não reabrir um debate que ocorreu em 2000 e que está “arrumado”.

“Nós estamos disponíveis para receber todos aqueles que olham para o PCP como ele é não como gostariam que ele fosse, é um debate arrumado que temos, isso é muito simples. (…) Respeitamos as opções diferentes que cada um tomou, não peçam ao PCP para mudar”, clarificou, em entrevista à SIC.

Relativamente à guerra na Ucrânia, Raimundo reconheceu que a posição do seu partido é “simples e simultaneamente complexa” e, ao contrário do seu antecessor Jerónimo de Sousa, caracterizou o conflito como “uma invasão” por parte da Rússia, que considerou ser “condenável”.

Ainda assim, reiterou que o conflito teve início em 2014 e comparou a Rússia a um “cão atiçado” pelos Estados Unidos, NATO e União Europeia, que, a par com Moscovo, têm as “maiores responsabilidades” no conflito.

Tomando a liderança de um partido em declínio eleitoral, Paulo Raimundo assumiu que o partido tem “culpas próprias” pelos últimos resultados obtidos e faz “muita autocrítica”, mas rejeitou que possam indiciar o fim do PCP.

“Há quem salive e desespere pelo fim do PCP. Pois daqui fica o conselho: esperem sentados, porque um partido ligado aos trabalhadores, às populações, aos seus problemas e anseios (…) a única coisa a que está condenado é a crescer e a alargar a sua influência”, avisou no seu discurso inaugural, a 13 de novembro de 2022.