O primeiro dia de aulas começou hoje com apenas quatro crianças da aldeia, num total de 13 que se deslocam de localidades vizinhas para aquele que será o último ano letivo nesta escola.

O mesmo irá suceder-se a mais sete antigas escolas primárias que ainda restam no concelho transmontano de Mirandela, com poucos alunos e à espera que se concluam os três polos escolares na cidade.

“Fechar uma escola é fechar uma aldeia”, como observou à Lusa Dulcínio Martins, adjunto do único agrupamento de escolas do concelho que em São Pedro de Vale do Conde terá a exceção.

Crianças e jovens não vão faltar no espaço a ser transformado no centro de estágio da escola de formação de futebol de São Pedro de Vale do Conde e que todos os dias treina 160 miúdos dos quatro aos 15 anos.

São crianças e jovens de várias zonas de Mirandela e de concelhos vizinhos como Alfândega da Fé e que dão vida a uma aldeia com pouco mais de 30 residentes.

Eram muitos mais os alunos do que os atuais habitantes no tempo em que Ermesinda Costa, com 61 anos, frequentou a escola onde agora trabalha como auxiliar. “O problema é que os novos não têm filhos”, desabafou.

A falta de crianças nas aldeias levou ao encerramento de mais de duas centenas de escolas em todo o distrito de Bragança em menos de duas décadas e em alguns concelhos só já há um polo escolar que concentra todos os alunos.

Mirandela ainda não concluiu a processo de concentração por falta de condições na sede de concelho para acolher as crianças e tem um compromisso com o Ministério da Educação de manter abertas algumas escolas rurais, como explicou a vereadora Deolinda Ricardo.

O município tem em curso as obras para a construção de três polos escolares na cidade para onde deverão ser transferidos, no próximo ano letivo, todos os alunos do primeiro ciclo, com exceção dos da vila de Torre D. Chama, como disse à Lusa o presidente da câmara António Branco.

Até lá, mantêm-se abertas oito escolas rurais, algumas com três outras com 13 alunos.

Ao todo, o concelho de Mirandela tem 670 alunos a frequentarem o primeiro ciclo, com a novidade de este ano letivo registar um aumento de 12 crianças.

A concentração de crianças irá reduzir de 36 para 29 o número de turmas e os lugares de professores, mas também o isolamento que atormentou a professora Arminda Silva no primeiro dia de aulas na aldeia de São Pedro de Vale de Conde.

Vai trabalhar pela primeira com os quatro anos do primeiro ciclo em simultâneo, uma realidade que considera “mais exigente” e que não a fará sentir “tão realizada”.

Os seus novos alunos “estão adaptados” a esta realidade porque sempre foi assim” para eles. Já a professora “nota mais que eles” o isolamento, apesar da garantia do agrupamento de que terá a companhia de professores de apoio e de inglês durante a semana.

A professora não duvida, contudo, de que as vivências destes alunos “fazem-nos mais fortes”. “Os desafios para eles são mais fáceis porque são mais autónomos. Estão isolados, mas estão habituados a desenrascar-se sozinhos”, considerou.

E prova disso, hoje no primeiro dia de aulas “nenhuma das crianças do primeiro ano chorou, nenhuma chamou pela mãe” quando chegou à escola, contou.

Ao final da tarde da tarde a escola fica vazia, com o fim das atividades letivas, enquanto no fundo da aldeia de São Pedro de Vale do Conde começa a agitação do futebol, dividida por dois campos de treino com dezenas crianças e jovens.

Em menos de uma década, a Associação para o Desenvolvimento de São Pedro de Vale do Conde construiu um projeto que através do futebol levou vida à aldeia e a aldeia além das fronteiras da região com uma equipa de futebol “Vale de Conde” no nacional de iniciados, o que também leva gente à aldeia em dias de jogo.

Os miúdos, como explicou à Lusa Susana Costa, responsável da associação, têm equipamento gratuito e tratado no clube, transporte diário, lanches gratuitos e metade não paga mensalidade, já que o valor é apurado de acordo com as possibilidades económicas.

Os patrocinadores ajudam a suportar as despesas e o trabalho é feito maioritariamente na base do voluntariado, nomeadamente entre os treinadores, em que se destaca o futebolista e internacional português Gilberto Gomes, filho da terra, que decidiu abraçar este projeto, fixando residência na aldeia.

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