No Senado em Washington, os dois republicanos que representam o Estado do Texas são John Cornyn, um conservador discreto que vem do poder judiciário, e o exuberante Ted Cruz, que chegou a ser candidato à presidência em 2016 – foi um dos cilindrados por Trump – e tem uma agenda conservadora e evangélica conhecida. Há quem ache Cruz a figura acabada do político sempre pronto a defender o ponto de vista que lhe dá votos e simpatias, mas o facto é que os texanos gostam dele e mantêm-no no Senado desde 2012.
Neste cenário, a eleição de Cruz nas próximas eleições intercalares, em novembro deste ano, pareciam favas contadas. Com 54 anos, ideias incisivas contra os imigrantes (que no Texas constituem 38% da população ), o Plano Nacional de Saúde (“Obamacare”) e os chamados direitos de género – casamento do mesmo sexo e IVG – Cruz tem defendido energicamente aquilo a que se chama uma “política de valores”, preto no branco.
Nas primárias da eleição presidencial de 2016, Trump atacou-o de todas as maneiras, incluindo a insinuação de que contaria “tudo” sobre a sua mulher, mas mesmo assim Cruz ganhou as primárias com o dobro dos votos do adversário. Contudo, depois da vitória de Trump contra Clinton, Cruz rapidamente acertou as agulhas com o novo Presidente, que já o endossou para a contenda de novembro.
Mas em política, tal como em meteorologia, o tempo muda rápida e imprevisivelmente. A popularidade de Trump no Texas, em fevereiro deste ano, já ia com 54% de desaprovação. E Cruz, desde que passou a apoiar Trump, viu os seus valores de popularidade passarem de 59 para 43%. Parece que o Texas estaria em vias de se tornar um “estado azul”, tivesse um candidato democrata ao Senado que se visse.
Esse candidato está a ver-se, ao que parece. Chama-se Beto O’Rourke e, embora ainda esteja abaixo de Cruz nas sondagens, tem crescido exponencialmente desde que apresentou a sua candidatura. Em parte, esta mudança deve-se à política negativa dos republicanos em relação aos imigrantes, que são parentes ou amigos da população hispânica do Estado. Há também a contar que o Texas não são só as vastas planícies cheias de gado e torres petrolíferas; as grandes cidades, cada vez maiores, são mais liberais e não gostam do estilo provinciano de Cruz. A outra parte da mudança deve-se à personalidade cativante de Beto. É jovem (45 anos, mas parece um miúdo), simpático, “kennediano”, e tem uma linguagem desempoeirada que agrada aos eleitores mais novos.
Em março, Beto ganhou as primárias democratas, tornando-se assim o oponente oficial de Cruz. Desde então tem feito uma campanha de proximidade, percorrendo incansavelmente o estado e falando em reuniões comunitárias em dezenas de cidades. Tem sido bancado por doações pequenas de milhares de apoiantes, o contrário dos grandes patronos de Cruz, o que é uma indicação do sentido do voto – na contagem, ricos e pobres valem o mesmo.
Robert Francis O’Rourke, que toda a gente chama simplesmente por Beto, é de El Passo e já está na Câmara dos Representantes federal desde 2012, depois de uma campanha igualmente feita ao nível das bases.
Os comentadores consideram que a hipótese do Texas eleger um senador democrata é remota; mas pelo menos agora é uma hipótese, ao fim de vinte anos de derrotas estrondosas. O Texas é apenas um dos estados onde os democratas têm esperanças nas intercalares de novembro. Serão, sem dúvida, um teste do que a opinião pública pensa das políticas e atitudes de Trump, e também de como o Partido Republicano se tem portado em relação a elas – ignorando os aspectos mais explosivos e o carácter do Presidente – para avançar com a sua agenda política.
Beto O’Rourke é uma das probabilidades mais promissoras.
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