Tudo começou no fim de fevereiro quando a associação de famílias com menores transexuais Chrysallis Euskal Herri lançou, no País Basco, uma campanha publicitária com a mensagem: “Há meninas com um pénis e meninos com uma vulva”. A campanha visível em mupis e autocarros de várias localidades bascas e no metro a circular em Bilbao tinha um objetivo claro: consciencializar para a realidade em que vivem estas crianças. Nela vê-se uma ilustração de várias crianças sorridentes – meninas com órgãos genitais masculinos e meninos com órgãos genitais femininos – e mobiliza para que “falemos disto” porque a “sua felicidade também depende de ti”.
A polémica, como refere a publicação espanhola El Confidencial, saiu das redes sociais para a rua. Os mupis foram vandalizados – pintados e os vidros partidos – e neles pode ler-se várias mensagens como “são crianças”, “as galinhas têm escamas e as sardinhas asas” ou “kanpora” (fora em basco).
Das redes sociais para as ruas bascas. Do País Vasco a Madrid
Nesta terça-feira, 27 de fevereiro, uma mensagem de sentido inverso foi posta literalmente a circular em Madrid. Quem andava pelas ruas da capital espanhola não ficou indiferente ao autocarro laranja que irrompeu pelas ruas. Nele podia ler-se a seguinte mensagem: "Os meninos têm um pénis e as meninas uma vulva. Não te deixes enganar. Se nasces homem, és homem. Se és mulher, continuarás a ser”.
O autocarro faz parte de uma campanha da associação ultra-católitca Hazte Oir (em português “Faz-te ouvir”) que se opõe à escolha do livre sexo, mas também ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à interrupção voluntária da gravidez. O autocarro surge depois de uma petição sem sucesso – ou assinaturas necessárias – para o fim da campanha da Chrysallis Euskal Herri.
O autocarro previa circular durante toda a semana, sem paragens definidas ou locais específicos por onde passar, explicou fonte do gabinete de imprensa ao suplemento digial do El País, Verne. “Por dentro é um autocarro como qualquer outro, não tem nada de particular no seu interior. A mensagem está fora”, acrescentou. A mesma fonte disse à publicação espanhola que esta não era “uma contra-campanha”, mas tinha sim por objetivo promover um livro lançado pela mesma organização ultra-católica. O livro em questão é um guia, lançado no passado mês de novembro e distribuído em vários colégios espanhóis, que advertia para a “ameaça real” das leis a favor da diversidade sexual e tinha na capa uma fotomontagem de crianças a fazer a saudação fascista a uma bandeira arco-íris.
O assunto chegou mesmo a ir ao Congresso espanhol, através do grupo parlamentar socialista que pedia a proibição da sua circulação, ordenada hoje por um juiz de Madrid. As autoridades policiais espanholas madrilenhas já haviam apreendido o veículo esta quarta-feira, por ordens camarárias, antes mesmo da decisão judicial ter ser conhecida. Os partidos Unidos Podemos e o PSOE querem retirar à Hazte Oír o estatuto de “utilidade pública”.
É considerado transfobia todas as atitudes ou sentimentos negativos em relação às pessoas travestis, transexuais e transgêneros. Transfobia refere-se também à intolerância perante a diversidade de género e à crença social de que a identidade e expressão de uma pessoa deve corresponder ao seu sexo biológico e aos órgãos genitais com que nasceu.
Em Espanha, o assunto não ficará certamente por aqui. O autocarro está parado, mas o assunto está longe disso. Segue a alta velocidade na sociedade espanhola.
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