Todos os anos, em todo o mundo, morrem cerca de 17,5 milhões de pessoas vítimas de doenças cardiovasculares. A China quer combater isso. Como? Clonando cães.

Apple é um cão, de raça Beagle, cujo genoma foi alterado para, propositadamente, desenvolver aterosclerose - uma doença vascular crónica e progressiva que se caracteriza pela inflamação da camada mais interna das artérias em contacto direto com o sangue.

Longlong é um cão, de raça Beagle, igual a Apple. É um clone de Apple. Esta é, aliás, a primeira vez que duas tecnologias são combinadas: a da edição de genes e da clonagem.

Ou seja, Longlong é o primeiro clone feito a partir de um cão cujo genoma foi alterado, isto depois de o primeiro cão ter sido clonado em 2005, na Coreia do Sul. Chamava-se Snuppy e era afegão.

Agora, a SinoGeneclon, a empresa responsável pelas clonagens, possui estes animais - para além de Apple e Longlong, há mais dois clones: Xixi e Nuonuo - e pode estudá-los para descobrir possíveis curas para aquela que é umas das principais causas de acidentes vasculares cerebrais e de doenças cardíacas.

O tema está a levantar polémica entre a comunidade defensora dos direitos dos animais, mas a empresa justifica-se com a ciência, dizendo que “os cães partilham com os seres humanos as doenças hereditárias, o que faz deles os melhores modelos para estudo”, a salienta o bom trato que eles recebem, relembrando que antigamente os animais eram alimentados com grandes doses de açúcar e gordura para provocar os sintomas pretendidos.

Em resposta, a organização não-governamental PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) considerou o trabalhou da SinoGeneclon como ‘anti ético’, sublinhando que este é um método caro e “cruel”.

Muitas pessoas também colocam em causa o financiamento estatal deste tipo de investigação, tão arriscada e controversa. O vice-presidente da Sinogene, Zhao Jianping, em resposta, afirma que a taxa de sucesso na clonagem dos cães é cerca de 50%.

A China é um dos países que mais utiliza animais como cobaias, sendo igualmente um dos países a que são apontadas mais lacunas na proteção dos direitos dos animais. Por ano, cerca de 20 milhões de animais são utilizados como cobaias em testes em laboratórios, segundo o Instituto Nacional Chinês de Controlo de Alimentos de Medicamentos.