Em debate no plenário da Assembleia da República, Marina Gonçalves apelou aos deputados para que se impliquem no “desígnio” de responder à crise na habitação, prometendo “diálogo”, mas “sem perder de vista” o objetivo de “encontrar soluções para as famílias” e frisando que “fazer escolhas muitas vezes é difícil, mas necessário”.
A ministra quis “marcar o tom” dialogante do Governo, mas a oposição, à direita e à esquerda, não aliviou as críticas às novas medidas do Governo, que hoje são discutidas na generalidade.
A deputada Márcia Passos (PSD) manifestou dúvidas sobre o interesse do Governo em, “de facto, ouvir todos” e criticou a suspensão das licenças de alojamento local e a anunciada retirada de benefícios fiscais aos municípios que não cumprirem com a medida do arrendamento forçado de casas devolutas.
O deputado André Ventura (Chega) fez referência aos “homens e mulheres” que trabalham no setor do alojamento local, presentes nas galerias da Assembleia da República, e perguntou à ministra se dormia “bem à noite”.
Em resposta, Marina Gonçalves reconheceu que a atual crise na habitação lhe tira o sono. “Muitas vezes não durmo à noite, porque há muitas famílias que não têm um teto digno”, retorquiu.
Para o Chega, o Governo está a “extorquir” o setor do alojamento local, com a contribuição extraordinária que faz parte do programa.
André Ventura desafiou ainda o Governo a “ir para tribunal” contra os autarcas que já disseram que não vão aplicar a medida do arrendamento forçado de casas devolutas, acusando-o de “ameaçar” o poder local. “O Estado é o primeiro a dar o pior exemplo, com casas abandonadas pelo país interior”, criticou.
Algumas autarquias, nomeadamente Lisboa e Porto, já anunciaram publicamente que não aplicarão a medida do arrendamento forçado.
A deputada Mariana Mortágua (BE) perguntou à ministra o que vai fazer para fazer descer os preços da habitação – “amanhã, no tempo das nossas vidas” – e sublinhou que descerem não é equivalente a “crescerem menos ou estagnarem”.
O BE considera que “pouco muda na habitação” e que “nada de essencial” se alterou no alojamento local e no arrendamento coercivo, “mas é só disso que fala a direita”, que “só fala em construir mais”.
“Temos os municípios todos mobilizados para a habitação pública”, garantiu Marina Gonçalves, admitindo que esta resposta “demora tempo a construir”, daí as medidas que versam sobre os privados e as cooperativas.
“Todos somos importantes”, vincou, assegurando que a prioridade continua a ser “reforçar o parque público”.
O deputado Duarte Alves (PCP) acusou o Governo de considerar a habitação “uma mercadoria e não um direito” e lamentou que não se “enfrente os lucros da banca” e se mantenha o regime de residentes não habituais, que “promove a especulação”, e a lei do arrendamento urbano, que tem “permitido o aumento das rendas de forma significativa”.
Colocando o foco nas “pessoas”, Marina Gonçalves sublinhou que “todos estão convocados” para “o dever de dar resposta” à crise na habitação, empenhando-se numa “estratégia o mais consensual possível” e acreditando que os diplomas do Governo “sairão reforçados” com o debate parlamentar.
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