“Jotinhas” e “entas” fizeram a festa no regresso de PSD e CDS à capital. Foi uma noite longa e a festa foi aumentando de tom à medida que se juntavam mais e mais novos presidentes de juntas de freguesia da capital.  Um voto, uma junta de freguesia conquistada. Mais uma contagem, mais um voto, mais uma junta a somar à lista. Foi assim que se foi desenhando a noite que terminou com Carlos Moedas a subir ao palco e a dizer que "se fez História". Carlos Moedas é o novo presidente da câmara municipal de Lisboa depois de somados os votos dos munícipes das 24 freguesias da capital.

Uma vitória eleitoral “contra tudo e contra todos” numa noite longa, “à antiga”, a prometer mudanças, conforme anunciou o candidato agora eleito no discurso de vitória perante largas centenas de apoiantes que disseram presente até de madrugada no Epic Sana Marquês, quartel-general da coligação de cinco partidos: PPD-PSD, CDS-PP, PPM, MPT e Aliança.

Uma maratona iniciada no fecho das urnas, às 20h00, até para lá das duas da madrugada, altura em que Fernando Medina, candidato do PS, coligado com o Livre, entregava as chaves da cidade ao novo inquilino dos Paços do Concelho. Durante a noite, ao hotel lisboeta foram confluindo em largo número de apoiantes e cerca de uma  dezena de presidentes de junta eleitos.

Parque das Nações. Alvalade. Lumiar. Belém. Avenidas Novas. São Domingos de Benfica. Areeiro. Santo António. E Arroios. Esta última, Madalena Natividade, independente apoiada pelo CDS, viria a “roubar” um bastião socialista, Margarida Martins, recandidata a um terceiro mandato, depois de liderar a freguesia desde a reforma administrativa que a criou. “A estratégia foi freguesia a freguesia, pessoas, comunidade local, proximidade porque ainda não tenho muita experiência política”, confidenciou ao mesmo tempo que se mostrou surpresa por ter ganhado “ao PS”.

O Partido Socialista manteve a junta de freguesia de Campo de Ourique nas mãos, zona administrativa da capital conquistada por Pedro Costa, filho de António Costa, por 25 votos.

“PPD, PPD, assim se canta, assim de vê, a força do PSD"

Carlos Moedas chegou à sede pelas 18h00 acompanhado da equipa dos seus possíveis futuros vereadores, braços direitos nesta campanha de meses pelas ruas, bairros e freguesias de Lisboa. Por essa altura contavam-se pelos dedos os apoiantes. Os primeiros a chegarem deram cor à sala do piso -2 da do Epic Sana. Eram cerca de uma dúzia de “jotinhas”. Multiplicaram-se por muitos mais ao longo da noite. Decoraram as cadeiras com as cores das duas principais forças partidárias da coligação Novos Tempos, PSD e CDS.

Ensaiam. Cantam um hino do PPD. “PPD, PPD, assim se canta, assim de vê, a força do PSD....”. Um cântico dos idos anos 70 recuperado pelos Novos Tempos porque, como disse Gonçalo Armindo, vice da JSD Lisboa, “a história do partido dá força aos Novos Tempos”.

O slogan chegou de boca em boca ao século XXI. “Passaram-nos das campanhas de 76, 78 e 80, passaram os mais velhos para a jota e isso não é para deixar”, assegura o líder da JSD. “O PPD tem cariz autárquico. Acreditamos nos Novos Tempos e que o PSD dá força, assim como os outros 4 partidos da coligação” afirma Gonçalo Armindo. Às 20h00, hora do fecho das urnas, gritava ao megafone “vitória”. Um grito de ensaio tímido. À mesma hora, um militante suspirava ao entrar na sala: “já vi que está animada”. Começava a estar.

Aos mais jovens começaram a juntar-se os “entas”, alguns dos quais acompanhados de crianças e adolescentes, e o volume sonoro na sala ia aumentando na medida da expectativa crescente no regresso da direita aos comandos da capital, 14 anos depois (Pedro Santana Lopes e António Carmona Rodrigues interromperam quase duas décadas de liderança socialista entre 2002 e 2007).

Esperava-se, a todo o instante, a intervenção de Ricardo Mexia, diretor de campanha de Carlos Moedas, conhecido médico de Saúde Pública, e presença assídua nas televisões nacionais durante o período pandémico. Aconteceu 20 minutos depois do encerramento das mesas de voto antecedida de longos aplausos. Na primeira reação, Mexia gastou dois minutos do tempo a falar da abstenção e da participação cívica, da campanha e do programa, “agradeceu a quem esteve ao longo do dia nas mesas de voto e quem fará noite dentro o processo de contagem”.

Em declarações ao SAPO24, Filipe Anacoreta Correia, centrista que é número 2 na lista da coligação Novos Tempos, voltou novamente a falar da abstenção na capital e partilhou informação: aumentou onde o eleitores são tendencialmente de esquerda e baixou onde os partidos da coligação costumam, por norma, ter maior expressão. Restava saber a equivalência ao número de eleitores.

“Moedas Presidente. Nós só queremos Moedas Presidente”.

“Moedas presidente”, “Moedas presidente”, “Nós só queremos Moedas Presidente”, “Moedas presidente”. Os gritos iam aumentando de volume à medida que a volumetria da sala ia sendo mais e mais ocupada. As primeiras projeções surgem pouco depois da 21h00. Meia hora mais tarde, Ricardo Mexia voltava ao palco por dois minutos para prometer “uma noite longa nas 24 freguesias de Lisboa”.

O cronómetro não parava. Nem a contagem de votos.

“Carlos Amigo, Lisboa está contigo”, anunciava-se aos gritos. A sensação de vitória começa a apoderar-se na sala onde o metro quadrado começa a ser escasso. Na sala, nos corredores de acesso e na rua, misturam-se as juventudes partidárias da JSD e CDS e pessoas de todo o tipo de idades. Muitos delas com bandeiras. Os abraços não cessam. Nem os cânticos, transportando o ambiente para um estádio de futebol.

Costa surge na televisão. Dita a experiência das noites eleitorais que os últimos a falar são os primeiros no voto. Não foi exceção.

Às 2h30 da madrugada, Moedas desce do elevador e projeta-se, lentamente, para a sala. Arrasta-se entre a multidão que o felicita, a mesma que havia rejubilado quando Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos chegaram à festa que se antecipava.

Seis minutos depois começa com “caros amigos e amigas”. Usa a palavra “orgulho”, sublinha ter sido feito “história” em Lisboa "depois de 14 anos” em mãos socialistas. Agradeceu aos líderes partidários de PSD e PP, à equipa mais próxima, onde se inclui António Valle, Ricardo Mexia, vereadores, independentes e estrategas políticos, entre outros.

Dirigindo-se aos presentes na sala, ao país e aos eleitos, reclama para si a possibilidade da democracia não ter “dono” e avizinha um “novo ciclo” a começar Lisboa mas que não vai acabar na capital”. O tique-taque estava prestes a bater as 03h00. Carlos Moedas, eleito presidente da CML termina o discurso.

Responde a perguntas de jornalistas, faz um encore e volta a falar. Agora para dirigir-se aos presidentes da juntas, novos e velhos, à amiga Assunção Cristas, ex-líder do CDS, antes de caminhar triunfalmente pela multidão ao som de “Heroes”, de David Bowie. A música de um herói por um dia numa noite em que se voltou a escutar buzinas de caravanas políticas.

(Artigo atualizado às 15h13)