“É um património absolutamente único. Com aquela diversidade e quantidade, confesso que não conheço. O estado de degradação não é catastrófico, mas percebe-se que ainda vale a pena recuperar e tem de ser com alguma rapidez”, alertou o historiador, em declarações à agência Lusa.
António Araújo relata que se trata de “milhares” de 'ex-votos' (do latim: por força de uma promessa, de um voto) que as pessoas foram colocando naquela igreja, existido também pinturas em madeira e em metal, sendo estas as que, com o passar do tempo, se vão corroendo e se encontram em “pior estado de conservação”, por “razões naturais”.
Contactado pela Lusa, o juiz da Confraria do Senhor Jesus da Piedade de Elvas, José Aldrabinha, explicou que a situação “está identificada”, e que está a ser preparada uma candidatura a fundos comunitários, para fazer face ao problema.
José Aldrabinha adiantou que, até esta altura, ainda não foi projetado um orçamento sobre o custo da intervenção, uma vez que a candidatura se encontra numa “fase embrionária”.
O historiador António Araújo diz-se “surpreendido” com a dimensão daquele fenómeno religioso, relatando que Igreja do Senhor Jesus da Piedade, em Elvas, possui imagens de 'ex-votos' a rondarem os 300 anos.
“Naquela igreja temos milhares de 'ex-votos', o mais antigo dos quais remonta a 1737; temos a história de uma região de Portugal contada sob a forma de preces ou orações pintadas”, disse.
“Temos pinturas muito antigas que retratam a ruralidade, temos a entrada dos franceses que rasgaram uma parte do património, rasgando as figuras de Cristo [Senhor Jesus da Piedade]. Depois temos, curiosamente, fotografia, um conjunto muito interessante da primeira guerra com bordados, ponto cruz, em cortiça, entre outros”, acrescentou.
António Araújo relata ainda que existe um “gigantesco” acervo fotográfico relacionado com a guerra colonial, terminando essa “viagem” até aos dias de hoje.
“Depois chegamos à guerra colonial, e temos um gigantesco acervo de fotografias, que praticamente forma uma das várias salas daquela igreja", relatou. O acervo segue "até aos nossos dias", destacando-se "uma fotografia de um carro desfeito”.
O historiador sublinha que existe naquele espaço um “manancial enorme” de informação, nomeadamente sobre a diferença de classes sociais, acrescentando que os 'ex-votos' pertencem “normalmente a classes mais populares”.
“Mas também temos de outras [classes sociais], sobretudo no século XIX. Isso é muito nítido pelas vestes e pelo mobiliário” reproduzidos, disse.
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