Quem ganhou?

Rui Rocha, cuja estratégia de debate foi colar André Ventura ao Partido Socialista. "Um voto em André Ventura é um voto no PS".

Quem perdeu?

André Ventura, que não conseguiu manter a calma (mesmo com a moderadora — "se estou a debater com os dois não dá"); não respondeu a questões-chave, nomeadamente como pretende subsidiar a promessa de equiparar pensões mais baixas ao salário mínimo ou se está disponível para viabilizar um governo minoritário PSD-IL; e não conseguiu de forma eficiente combater a estratégia de Rui Rocha, optando por responder com acusações soltas, chegando mesmo a ser deselegante — "Já vi que a IL está doidinha para se meter na cama com PSD". André Ventura, conhecido pelas suas valências de tribuno, ao perder a calma chegou mesmo a deslizar quando sugeriu tributar as gasolineiras — o que Rui Rocha não deixou passar em branco: "André Ventura quer taxar gasolineiras, pequenas e médias empresas, as petrolíferas não sei como quer taxar, já que estão lá fora".

Promessas:

Muito se falou de impostos e pensões, mas ficou a faltar a saúde, a habitação ou a educação neste debate, já que nenhum dos candidatos encontrou espaço para dizer o que quer para cada uma destas áreas.

Impostos

Apesar de defender a redução "de uma carga fiscal que tem aumentado brutalmente", André Ventura referiu que "não pode ser uma descida de impostos total", já que nos seus planos está também um aumento das pensões. Além de reduções no IRC e IVA sobre os combustíveis, o líder do Chega colocou o foco na redução do IMI, sem porém especificar como (recorde-se que é um imposto municipal) ou em quanto. Para André Ventura este é "o imposto mais estúpido do mundo. Pagamos para comprar, pagamos para vende e para manter a casa que temos".

Já Rui Rocha disse que as reduções propostas pela Iniciativa Liberal em IRS e IMT tiram 4 a 5 mil milhões de euros aos cofres do Estado, mas, em contrapartida, "têm um efeito multiplicador do crescimento económico". "Por uma vez tem de ser o Estado a fazer um ligeiro esforço para aliviar empresas e famílias", defendeu, deixando todavia claro que num governo da Iniciativa Liberal não haverá lugar a injeções de capital "canalizadas para o desperdício", dando como exemplos a TAP e a Efacec.

A TAP, note-se, foi pedra de toque para Rui Rocha colar André Ventura ao PS, dizendo que o Chega quer a TAP nacionalizada. André Ventura fez questão de responder à acusação, lembrando que o partido tem defendido que o dinheiro injetado na companhia seja devolvido aos portugueses. André Ventura disse ainda que o seu partido considera a companhia aérea "estratégica", seja para salvaguardar postos de trabalho, seja para garantir rotas relevantes para diáspora, seja para evitar que a TAP seja vendida à Iberia, com centro de operações e voos (hub) em Madrid. Rui Rocha limitou-se a reiterar que Ventura quer uma TAP nacionalizada, ainda que não o diga claramente, porque "todos sabemos o que estratégica significa". "A Iniciativa Liberal em bom momento apresentou uma proposta de privatização da TAP e o Chega votou contra. (...) O André Ventura nestas matérias é muito semelhante ao Partido Socialista, parece que estamos a falar com Pedro Nuno Santos", rematou.

Pensões

Também a proposta do Chega de equiparar as pensões mais baixas ao salário mínimo nacional serviu a estratégia de Rui Rocha de colar André Ventura ao PS. O líder da Iniciativa liberal disse que André Ventura quer prometer tudo a todos e se comporta "como uma daquelas crianças que vai para o parque de diversões, vê os carrosséis e quer andar em todos". Para Rui Rocha, com esta proposta "absolutamente impossível", o líder do Chega está "a enganar os idosos" com uma medida que poderia levar o país à bancarrota. Acusado por André Ventura de  estar "desligado do país real" e questionado sobre se vive bem com idosos a receberem pensões de 200 euros, Rui Rocha não quis ser taxativo, dizendo somente que é "a favor do cumprimento da lei no aumento das pensões".

E como pretende o Chega cumprir a promessa de aumento das pensões? André Ventura reiterou que a corrupção vale 20 mil milhões e a economia paralela captura 89 mil milhões, sem porém especificar como é que irá taxar estas atividades e angariar o valor necessário.

Imigração

Este foi outro dos grandes temas deste debate, com André Ventura a ser questionado se as posições do Chega não colidem com as posições da Igreja sobre esta matéria e com Rui Rocha a responder se a Iniciativa Liberal é mais ou menos liberal do que o Partido Socialista nesta questão.

Mas Chega e IL não se encontram em extremos opostos. Ventura pede "uma imigração controlada" e acusa PS e Iniciativa Liberal de "não perceberam que se deixarem toda a gente entrar, qualquer dia não temos um país, temos uma bandalheira". Já Rui Rocha defendeu que o partido "quer uma imigração com humanismo". "O que não podemos é ter um país que, com facilitismo exagerado, tenha pessoas, seres humanos, explorados por redes de tráfico". Se um imigrante prova que tem contrato de trabalho ou faz prova de meios, isso torna-o, defende, "menos sujeito a abusos e exploração".

Confrontado por André Ventura com o facto de ter votado contra a deportação de imigrantes que tivessem cometido crimes em Portugal, Rui Rocha defendeu que a posição da Iniciativa Liberal é que se cumpra a lei e que, quando aplicável pela lei, se proceda então à deportação. E concluiu: "Sabe o que não faço? Não uso a imigração para mentir. Sou de Braga e concorro por Braga, e o André Ventura ainda há pouco tempo disse que havia 30% de imigrantes em Braga: é falso".

E acordos pós-eleitorais?

Rui Rocha planeou ao detalhe a estratégia para este debate, tendo desafiado André Ventura a assumir aqui que viabilizaria um governo PSD-IL. Objetivo? Evitar o regresso do PS ao poder. Ventura recusou fazê-lo, acusando a IL de falta de humildade. "Já vi que a IL está doidinha para se meter na cama com PSD e com qualquer partido que dê. Vocês querem em entrar em qualquer solução que dê", retorquiu Ventura. Rui Rocha aproveitou para fechar a ideia que foi veiculando em todo o debate: "Um voto no Chega é um voto no PS. (...) Hoje debati com o líder do outro partido socialista".