De foice e martelo ao peito, eles agitam a bandeira que a América noutros tempos combateu. Não são muitos, cerca de 2 mil, mas afirmam-se comunistas num país onde impera o capitalismo económico. Mas os países não vivem só das maiorias e há sempre quem tenha uma forma diferente de ver o mundo e a sociedade.

Se Bernie Sanders introduziu o conceito de Socialismo na América, o Partido Comunista Americano (CPUSA) luta por se afirmar num contexto político complexo em que os dois grandes partidos, Democrata e Republicano, absorvem todas as atenções. O partido não tem um único vereador, não foi eleito para lugar algum, tem pouca expressão. Mas existe e não baixa os braços para lutar pelo país que os seus militantes idealizaram. Mesmo que isso implique, num primeiro momento, apoiar alguém como Hillary Clinton.

Longe vão os anos em que o Partido Comunista apresentava um candidato próprio, e nesta campanha eleitoral a escolha dos seus militantes recai sobre a ex-Secretária de Estado norte-americana. Na verdade, os comunistas americanos queriam Bernie Sanders, mas entre eleger um “fascista” (referindo-se a Donald Trump) ou Hillary, que seja Hillary, a primeira mulher escolhida para representar um dos dois grandes partidos numa corrida presidencial.

O SAPO24 questionou o CPUSA sobre a decisão de não apresentar candidato. “É tudo uma questão de dinheiro e de recursos”. A campanha presidencial norte-americana é cara, e só para aparecer nos boletins os candidatos é preciso, muitas vezes, pagar. Além disso, este ano o foco está "em derrotar a extrema-direita, onde o Partido Republicano se posicionou”.

O CPUSA acha que “o risco de Trump ser eleito cresceu claramente” e que, por isso, os comunistas americanos têm de se “alinhar num esforço de uma frente unida, que seja de protesto contra a extrema-direita e que levante questões sobre os trabalhadores”.

É assim que se justifica o apoio aos democratas Bernie Sanders e Hillary Clinton, que se defrontaram nas primárias. Aliás, o partido comunista destaca o papel de Sanders, que “contribuiu para abrir o debate [sobre as condições dos trabalhadores] durante este ciclo eleitoral”. Por isso, “têm de apoiar o candidato que segue as linhas do programa de Sanders: Hillary Clinton”.

“A vitória de Trump seria o pior revés aos avanços conquistados para a classe trabalhadora e para o povo”

Assim, quem vai ao site do partido depara-se com uma espécie de página de apoio à democrata, esposa do ex-presidente Bill Clinton. Os tons de vermelho do partido, contrastam com a cor azul que a candidata apresenta. Em destaque, o artigo de opinião “Hillary’s hour” (o tempo de Hillary).

Mas nem todos estão alinhados com a postura do partido. Michael Taylor, um fiel comunista americano, diz que “o CPUSA já não se preocupa mais com os trabalhadores. Agora só se baseia na política”. Taylor vê no Socialismo de Bernie Sanders um degrau necessário para atingir o comunismo na sociedade capitalista americana, mas diz que isso “não significa que apoiar Hillary seja o caminho certo para o socialismo”.   

“A derrota da extrema-direita é essencial para o progresso social”, defende o Partido Comunista Americano, e a “vitória de Trump seria o pior revés aos avanços conquistados para a classe trabalhadora e para o povo”. Para o CPUSA a sua posição no contexto atual “baseia-se no que classe trabalhadora tem priorizado - a luta contra o neoliberalismo, não só sob a forma de acordos comerciais, mas contra toda a ‘agenda de Wall Street’”.

Definem-se como pessoas com “ideias radicais, mas com políticas reais”, e apesar de pouco influentes marcam uma posição extrema num país que está ideologicamente situado no outro extremo.

Se é possível chegarem ao ideal comunista nos próximos anos? Talvez não, pelo menos a base de apoio do partido demonstra isso mesmo. Mas a campanha de Bernie Sanders e a inclusão de medidas propostas pelo democrata no programa de Hillary Clinton já é uma vitória. Sobretudo num país de costas voltadas para o socialismo, já para não falar no comunismo.

Esta é uma reportagem que está inserida num especial rumo às Eleições Americanas que se realizam a 8 de novembro deste ano.