O anúncio foi feito hoje pelo presidente da Cruz Vermelha, Francisco George, que adiantou que a ministra da Saúde, Marta Temido, o acompanhará no voo patrocinado pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos e pelo Grupo Jerónimo Martins e no qual a empresa proprietária do avião, a EuroAtlantic, cobra apenas o preço de custo da operação, 205 mil euros, abdicando do lucro.
Segundo Francisco George, o ‘Boeing 767’ fretado vai levar 33 toneladas de bens essenciais para a zona de Moçambique afetada pelo furacão Idai, mas com uma componente ”inédita” destinada a recém-nascidos e às suas mães, salientando que o stress pós-traumático está a provocar partos prematuros.
O avião, que parte no domingo cerca das 17:00, do aeroporto militar de Figo Maduro, em Lisboa, num voo direto para a Beira (que não existe nas carreiras comerciais) levará 1,5 toneladas de ‘kits’ de parto esterilizados, importados da Holanda, seis simuladores de parto e 15 toneladas de artigos para assistência a partos e de apoio aos primeiros meses de vida dos bebes além de medicamentos e bens alimentares de primeira necessidade.
Estes bens foram doados pelos portugueses, empresas e instituições e, no caso dos bebés, contemplam fraldas, alimentos, e roupas para recém-nascidos sem poliéster, só de algodão e linho, em virtude do calor que se faz sentir nesta altura do ano em Moçambique.
Francisco George sublinhou que esta missão, que conta com técnicos de enfermagem, dos Médicos do Mundo e da CVP, mais do que socorrer as mães e as crianças recém-nascidas, pretende "dar formação, ensinar, mostrar e apresentar soluções", que ficarão como conhecimento para o futuro, já que o material que for doado ficará em Moçambique.
“Queremos salvar mais crianças, salvar mais mães e deixar o conhecimento. O conhecimento ficará sempre”, disse Francisco Ge0rge, que estava acompanhado pelo ministro Conselheiro de Moçambique, Dionísio Maculo, e por representantes dos Médicos do Mundo, da companhia aérea parceira na operação, da Fundação Francisco Manuel dos Santos e do Grupo Jerónimo Martins, entre outros.
Francisco George manifestou a convicção de que haverá mais voos de ajuda humanitária para Moçambique, mas a CVP já está a preparar operações de transporte marítimo, logo que o porto da Beira possa receber navios, o que o ministro moçambicano previu ser dentro de um mês.
O mesmo responsável explicou que vão seguir muitos medicamentos solicitados pela equipa portuguesa especializada que está a fazer os primeiros levantamentos, sobretudo para a cólera e a filaríase.
Segundo Francisco George, foram já recolhidos donativos no valor de 1.313.192,87 euros.
O presidente da CVP pediu aos jornalistas presentes para “não se cansarem” de mostrar a tragédia da Beira e de Moçambique, para que as ações de solidariedade se mantenham, pois ainda “há muito que fazer”.
A passagem do ciclone Idai em Moçambique, no Zimbabué e no Maláui fez pelo menos 786 mortos e afetou 2,9 milhões de pessoas nos três países, segundo dados das agências das Nações Unidas.
Moçambique foi o país mais afetado, com 468 mortos e 1.522 feridos já contabilizados pelas autoridades moçambicanas, que dão ainda conta de mais de 127 mil pessoas a viverem em 154 centros de acolhimento, sobretudo na região da Beira, a mais atingida.
As autoridades moçambicanas adiantaram que o ciclone afetou cerca de 800 mil pessoas no país, mas as Nações Unidas estimam que 1,8 milhões precisam de assistência humanitária urgente.
Entre os danos materiais, as autoridades moçambicanas registam mais de 90 mil habitações atingidas, das quais 50.619 ficaram totalmente destruídas, 24.556 parcialmente destruídas e 15.784 inundadas.
Foram ainda danificadas ou destruídas 3.202 salas de aulas, afetando 90.756 alunos, bem como 52 unidades de saúde.
Quase 500 mil hectares de terras ficaram inundadas.
Segundo o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades de Moçambique, o Idai atingiu a Beira no dia 14 de março com chuva forte e rajadas de vento de 180 a 220 quilómetros por hora.
No Zimbabué, as vítimas mortais registadas são 259, há 186 feridos contabilizados e 4.500 deslocados, num total de 270 mil pessoas atingidas pelos efeitos do Idai.
No Maláui, o balanço mantém-se inalterado, nos 59 mortos, além de 672 feridos, 86 mil deslocados, e 868.900 pessoas afetadas.
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