O Nhumba Yathu (‘A nossa casa’ no dialeto local) era um dos restaurantes que foi varrido da praia pelo Idai que devastou mais de 90% da cidade da Beira, segundo a Cruz Vermelha Internacional.
“A cidade da Beira está completamente destruída”, confirma o português Jorge Fernandes, proprietário do agora desaparecido Nhumba Yathu.
O empresário, que, “por sorte", vivia num primeiro andar, estava em casa com a família quando o ciclone tropical Idai atingiu a Beira, a cidade moçambicana mais afetada pela catástrofe.
Entre quinta e sexta-feira, a ventania começou a aumentar de intensidade “por volta do meio dia, acompanhada de chuvas fortes, e só começou a abrandar no dia seguinte às seis da manhã”, contou.
“Nunca apanhei isto. Passei às vezes ventos fortes, mas não era nada que se comparasse com isto”, relatou Jorge Fernandes à Lusa, salientando que nunca tinha visto a cidade toda inundada.
O empresário refugiou-se com os três filhos e a mulher em casa de amigos e disse não ter conhecimento de mortos ou feridos entre os portugueses.
Nos dias que se seguiram à passagem do Idai, apesar de continuar a chover com intensidade, Jorge Fernandes tentou recolher alguns bens e “aproveitar aquilo que restava”.
O restaurante dispunha de uma reserva de água e alimentos, que foram distribuídos pelos amigos “com gerador, para não se estragar a comida”, mas Jorge Fernandes mostra-se preocupado com os próximos dias, sobretudo porque a água começa a escassear.
“Agora vai faltar tudo”, constata.
Embora esteja numa casa com gerador, Jorge Fernandes afirma que a maior parte das pessoas não dispõem deste tipo de equipamento e alerta para a escassez de água.
“Para a água mineral está difícil porque essa água vinha de Chimoio e a estrada está cortada, as pessoas têm dificuldade em adquirir água e a água da companhia não sai”, afirma.
Os habitantes da Beira só agora começam a aperceber-se da dimensão da tragédia.
“Só hoje praticamente é que conseguimos ter televisão e começamos a perceber o que se passou. Não tínhamos informações, não temos dados móveis, nem rede, não temos energia”, desabafou o empresário.
Em Moçambique, o Presidente da República, Filipe Nyusi, anunciou na terça-feira que mais de 200 pessoas morreram e 350 mil “estão em situação de risco”, tendo decretado o estado de emergência nacional.
O país vai ainda cumprir três dias de luto nacional, até sexta-feira.
O Idai, com fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora, atingiu a Beira (centro de Moçambique) na quinta-feira à noite, deixando os cerca de 500 mil residentes na quarta maior cidade do país sem energia e linhas de comunicação.
A Cruz Vermelha Internacional indicou na terça-feira que pelo menos 400 mil pessoas estão desalojadas na Beira, em consequência do ciclone, considerando tratar-se da “pior crise” do género no país.
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, viajou para a Beira, onde dezenas de portugueses perderam casas e bens devido ao ciclone Idai, para acompanhar o levantamento das necessidades e o primeiro apoio às populações afetadas.
O ciclone atingiu também o Maláui e o Zimbabué, totalizando os três países mais de 350 mortos.
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