Na segunda-feira, os Bombeiros Voluntários de Camarate foram chamados, às 12:15, ao lar Casa de Santa Maria, em Camarate, para socorrer um idoso de 93 anos que tinha sofrido uma queda. Mais tarde, por volta das 13:00, o doente deu entrada no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures.

Como é que o idoso foi atendido?

Os bombeiros depararam-se com “um cenário caótico” no hospital, segundo o comandante Luís Martins.

A avaliação clínica foi realizada na maca dos bombeiros por “falta de macas no hospital”. Foram feitos exames raio-x, em que foi detetada uma fratura do colo do fémur do idoso, e uma estabilização da perna com uma tração, indicou ainda, referindo que “o caso era grave”.

Depois de mais de cinco horas à espera no corredor do hospital, para ser transportado para Santa Maria, no concelho vizinho de Lisboa, o estado clínico do idoso agudizou-se e o homem acabou por morrer, cerca das 18:30. Os bombeiros disponibilizaram-se para fazer o transporte, mas não tiveram autorização.

Esta situação de espera é recorrente?

Luís Martins frisa que “o caos” no hospital de Loures, com elevados tempos de espera e sem macas disponíveis, tem sido “uma situação recorrente”.

De acordo com a RTP3, no Hospital Beatriz Ângelo, durante o dia de segunda-feira chegaram a estar 22 ambulâncias com doentes à espera de serem atendidos ou à espera de transferência para outros hospitais.

Segundo o portal dos tempos de espera no Serviço Nacional de Saúde (SNS), a unidade de saúde de Loures (distrito de Lisboa) registava às 13:00 um período de 04:50 de espera para os 33 utentes da Urgência Geral com a categoria Urgente (pulseira amarela), seguindo-se 49 minutos de espera para nove doentes Menos Urgentes (pulseira verde) e 25 minutos para as categorias Muito Urgente (pulseira laranja) e Não Urgente (pulseira azul), ambas com um utente.

O que diz o Beatriz Ângelo sobre este caso em concreto?

A administração do hospital vai abrir com caráter de urgência um inquérito à morte do idoso.

“Apesar de a avaliação preliminar não permitir estabelecer qualquer relação entre o tempo de permanência na urgência, a assistência prestada e o desfecho que veio a verificar-se, o Conselho de Administração determinou a abertura de um processo de inquérito com caráter de urgência para cabal apuramento dos factos”, é referido numa nota divulgada esta manhã.

O caso vai ser investigado?

Sim. Além do inquérito aberto no hospital, a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) decidiu averiguar o sucedido em conjunto com a Entidade Reguladora da Saúde (ERS).

“Considerando que a IGAS decidiu abrir um processo de esclarecimento, para avaliar a necessidade de desenvolver outro tipo de ação inspetiva e que a Entidade Reguladora da Saúde, no quadro das suas competências, também se encontra a averiguar a situação, através de um processo de avaliação, estes dois organismos decidiram cooperar de modo a obter todos os esclarecimentos necessários de forma complementar”, adiantou a IGAS em comunicado.

Na nota divulgada, a Inspeção-Geral assumiu ter tomado conhecimento do caso através dos órgãos de comunicação social e assinalou o anúncio pelo conselho de administração daquela unidade hospitalar de “um processo de inquérito com caráter de urgência”.

Também a Câmara Municipal de Loures, presidida pelo socialista Ricardo Leão, assegurou estar “atenta e a acompanhar com preocupação a situação da urgência desta unidade hospitalar”, nomeadamente a “falta de capacidade de resposta”.

O que dizem os utentes?

A Comissão de Utentes do Hospital Beatriz Ângelo disse estar a acompanhar com “muita preocupação” este caso e afirma que tudo isto "já aconteceu noutras ocasiões".

Numa nota, a comissão lembra já ter alertado para a falta de profissionais de saúde, que leva à falta de capacidade de resposta às situações de urgência, agravadas pelo período de férias e pelo tempo quente que está a afetar o país.

Os picos de procura também não têm resposta nos centros de saúde, igualmente com falta de pessoal médico e de enfermagem.

“Reiteramos a nossa convicção de que a falta de profissionais no SNS se deve a uma clara falta de investimento por parte do Governo, sem que se vislumbre qualquer iniciativa no sentido de lhes dar as condições de trabalho necessárias e que permita a sua fixação no setor público”, destaca a comissão.

O SNS, sublinha ainda, é o “único serviço de assistência médica para todos sem exceção, e em condições de igualdade”.

*Com Lusa