O estudo do Iscte indica que a deterioração das condições económicas foi “um dos maiores fatores de insegurança” entre os imigrantes, “aumentando a exposição ao risco de contaminação e o medo constante de adoecer sem poder arcar com despesas ou proteger as respetivas famílias”. O medo e a incerteza foram acompanhados de “um sentimento de desamparo, especialmente entre aqueles que enfrentavam dificuldades para ter acesso a recursos de proteção social e de saúde mental”.
"Enquanto muitos cidadãos conseguiram proteger-se em casa, outros – principalmente os imigrantes em empregos essenciais – continuaram expostos por não terem escolha, uma vez que dependiam do trabalho para sobreviver", afirma Violeta Alarcão, socióloga, investigadora do Iscte e coordenadora do estudo, alertando para a responsabilidade do Estado em proteger todos os cidadãos. "É uma desigualdade que precisa de respostas adequadas".
No estudo foram entrevistados alguns imigrantes e um cidadão brasileiro relatou como a pandemia expôs desigualdades em diversos contextos de trabalho. “O confinamento foi para alguns, mas não para todos”, afirma. “Mesmo com os riscos, muitos imigrantes não puderam parar, uma vez que dependiam do trabalho para sobreviver – e muitos acabaram infetados”. Este imigrante destaca também as adversidades diárias associadas às suas próprias múltiplas identidades: “É difícil lidar com os desafios de ser imigrante, brasileiro, negro, LGBTIA+”, afirma. “Cada uma destas identidades traz obstáculos acrescidos”.
Os resultados do estudo Equals4COVID19 serão apresentados a 19 de novembro, em Lisboa, às 14:30, na mesa-redonda “Equidade em saúde: desafios e soluções para a saúde mental pós-COVID-19 em comunidades imigrantes” da 3.ª Conferência SocioDigital Lab for Public Policy, este ano dedicada ao tema “Novas Fronteiras na Saúde: contributos para as políticas públicas”.
Mulheres foram as mais impactadas
O estudo indica que as mulheres imigrantes estiveram particularmente vulneráveis, apresentando sintomas elevados de depressão e sofrimento psicológico. “A dupla condição de ser mulher e imigrante ampliou o impacto emocional da pandemia, tendo a perceção direta da discriminação agravado as vivências neste contexto”, afirma Violeta Alarcão.
Os resultados indicam que muitas imigrantes relataram que os episódios de discriminação aumentaram ao longo da pandemia, com impactos severos no bem-estar emocional. “A perceção de discriminação foi associada a sintomas mais graves de ansiedade e stress, gerando uma espiral de vulnerabilidade”, afirma a docente do Iscte. “Estas experiências mostram que, para construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva, precisamos de um sistema de proteção social mais robusto e com políticas de saúde mental que não deixem ninguém para trás”, conclui.
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