O julgamento político de Donald Trump conheceu o seu veredito final, sendo que a votação no Senado decorreu depois de quase duas semanas de discussão à volta de dois artigos para destituição, que foram aprovados pela maioria democrata na Câmara dos Representantes em dezembro do último ano.

A sessão de contagem dos votos foi presidida pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça norte-americano, John Roberts, sendo que cada um dos 100 senadores foi inquirido por ordem alfabética, tendo de dizer se Donald Trump era "culpado" ou "inocente" quanto aos dois artigos de destituição

Na primeira votação, relativa à acusação de abuso de poder, Donald Trump foi absolvido, com 52 votos a declará-lo inocente e 48 votos a considerá-lo culpado.

Na votação do segundo artigo, que tratava da acusação de obstrução do Congresso, Donald Trump também foi absolvido, com 53 votos a declará-lo inocente e 47 votos determinando-o culpado.

Depois das votações, o John Roberts declarou formalmente a absolvição de Donald Trump. "O Senado, tendo julgado Donald John Trump, Presidente dos Estados Unidos, perante dois artigos de impeachment movidos contra ele pela Câmara dos Representantes, e tendo dois terços dos Senadores presentes não o havendo julgado culpado das acusações neles existentes: é, então, ordenado e julgado que o dito Donald John Trump seja absolvido das acusações presentes nesses artigos", proclamou.

Donald Trump já reagiu ao desfecho do impeachment, partilhando uma publicação humorística onde uma capa da revista Time o imagina a recandidatar-se infinitamente a ganhar as eleições, muito para além dos dois mandatos permitidos pela Constituição.

A absolvição era esperada, já que a Constituição norte-americana exige a maioria de dois terços, o equivalente a 67 votos das 100 cadeiras do Senado, para que o presidente seja condenado. Trump sabia, à partida, poder contar com o apoio de, pelo menos, 52 dos 53 senadores republicanos.

A "pedra no sapato" de Trump consistia, à partida, para além dos senadores democratas, no senador republicano por Utah, Mitt Romney, que disse que votaria pela condenação de Trump no que toca ao seu alegado abuso de poder.

"O presidente é culpado de um abuso chocante da confiança pública", disse o ex-candidato à Presidência em 2012 num discurso no Senado. "Corromper uma eleição para se manter no poder talvez seja a violação mais abusiva e destrutiva do juramento ao cargo de alguém que eu possa imaginar", acrescentou.

A discrepância entre a votação do primeiro artigo — 52 votos "inocente", 48 votos "culpado" — e a votação do segundo — 53 votos "inocente", 47 votos "culpado" — prende-se com o facto de que Romney considera Trump culpado de abuso de poder, mas não de obstrução.

Nas alegações finais, esta semana, os democratas insistiram na versão de que Trump abusou do cargo, ao pressionar o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a investigar a atividade da família de Joe Biden, rival democrata, junto de uma empresa da Ucrânia envolvida num caso de corrupção, e que tentou perturbar a investigação pela Câmara de Representantes.

A equipa de advogados do Presidente voltou ao argumento de que não houve pressão junto de nenhum líder estrangeiro (invocando mesmo declarações de Zelensky nesse sentido) e disse que o Presidente atuou sempre em função do interesse público, preocupado com o alastrar da corrupção na Ucrânia, negando igualmente qualquer ato de obstrução ao Congresso.

Donald Trump é acusado de ter pressionado o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para investigar a atividade do filho do seu adversário político Joe Biden junto de uma empresa ucraniana envolvida num caso de corrupção, num gesto que a Câmara de Representantes diz constituir um ato de abuso de poder, bem como de ter tentado obstruir a averiguação destes factos por parte do Congresso.

Em 18 de dezembro, a maioria democrata na Câmara de Representantes aprovou dois artigos de destituição com base nestas acusações, tornando Donald Trump o terceiro Presidente norte-americano a ser sujeito a um processo de ‘impeachment’, depois de Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998.

Ao longo do processo, Donald Trump tem repetido que tudo não passa de uma "caça às bruxas" destinada a prejudicar a campanha para reeleição nas presidenciais de novembro próximo.