"Milhares de colmeias foram destruídas, sem sombra de dúvida", vincou o presidente da Apilgarbe, Hélder Águas, sublinhando que há dezenas de milhares de colmeias na serra de Monchique, lugar de eleição para a apicultura no barlavento algarvio.

No entanto, os afetados não serão apenas de Monchique e de Silves, mas também apicultores de outros concelhos que tinham apiários na serra, zona propícia para a produção de mel, notou.

"Normalmente, para se defenderem do fogo, corta-se o mato à volta dos apiários e conseguem resistir muitas vezes, mas é preciso que esteja tudo muito limpo para que as chamas não cheguem lá", explicou.

Os apicultores, frisou, "estão completamente desorientados e fortemente prejudicados por isto".

A situação não é inédita e já no passado a apicultura saiu gravemente afetada de outros fogos que passaram pela serra, referiu.

Porém, este ano, face à atuação das autoridades na retirada das pessoas das localidades, "muitos apicultores não conseguiram ir buscar as colmeias e pô-las em sítios seguros".

"O futuro vai ser muito complicado. A apicultura é um trabalho duro e pessoas com 50, 60, 70 anos ainda trabalham nisto, mas a malta nova já pouco liga. Agora que as florestas arderam, as coisas ainda vão ficar mais complicadas", sublinhou Hélder Águas.

O presidente da Associação dos Apicultores do Sotavento Algarvio (Melgarbe), Manuel Francisco Dias, considerou que a sua congénere terá sido fortemente afetada pelo incêndio, ainda para mais "na zona com mais apicultores" e que mais mel produz no Algarve.

"A Melgarbe tem cerca de 60 mil colmeias registadas. Na zona do barlavento serão ainda mais", frisou.

O incêndio rural, combatido por mais de mil operacionais e considerado dominado hoje de manhã, deflagrou no dia 03 à tarde, em Monchique, distrito de Faro, e atingiu também o concelho vizinho de Silves, depois de ter afetado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).

A Proteção Civil atualizou o número de feridos para 41, um dos quais em estado grave (uma idosa que se mantém internada em Lisboa).

De acordo com o Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais, as chamas já consumiram cerca de 27 mil hectares. Em 2003, um grande incêndio destruiu cerca de 41 mil hectares nos concelhos de Monchique, Portimão, Aljezur e Lagos.

Na terça-feira, ao quinto dia de incêndio, as operações passaram a ter coordenação nacional, na dependência direta do comandante nacional da Proteção Civil, depois de terem estado sob a gestão do comando distrital.