“Durante a noite a situação foi caótica, não havia mãos a medir, havia diversas frentes de fogo e os meios eram poucos. Foi a freguesia toda a arder ao mesmo tempo”, descreveu a presidente da Junta de Freguesia da Serra de Água, no concelho da Ribeira Brava, em declarações à agência Lusa.
“As condições eram tão adversas que nem se podia fazer o combate, tínhamos de pôr em primeiro lugar a defesa das vidas e defender algumas casas, mas a situação foi mesmo difícil porque a temperatura era alta e o vento extremamente forte”, acrescentou Albertina Ferreira.
A autarca falava à Lusa na Fajã dos Vinháticos, uma zona da onde cerca das 14:00 o fogo lavrava próximo a habitações. O cheiro a fumo era intenso e ouvia-se material ardido a estalar.
Ao início da tarde de hoje, cerca de 10 pessoas, sobretudo doentes e com dificuldades de locomoção, foram retiradas das suas casas, enquanto as restantes, na sua maioria, não quiseram deixar as suas propriedades.
Catarina Silva, uma moradora de 26 anos, disse à Lusa que a situação “piorou bastante” durante a noite, realçando que o vento “era insuportável”.
Não conseguiu descansar durante a noite com receio de que o fogo ameaçasse a sua casa, um sentimento que era partilhado pelos vizinhos que se deslocavam frequentemente à rua para ver o evoluir das chamas.
“Estou preocupada”, confessou, acrescentando que tem uma filha e tudo pronto para sair caso a situação se complique.
Segundo a munícipe, os moradores, excetuando os de mobilidade reduzida, só serão forçados a sair se o fogo se aproximar mais.
Pouco depois das 15:00, a agência Lusa esteve no pavilhão desportivo da Ribeira Brava, onde se encontravam menos de 10 idosos alojados. As restantes cerca de 40 pessoas que ali pernoitaram já tinham regressado às suas casas.
A Madeira está a ser atingida por um incêndio que deflagrou na manhã de quarta-feira na Serra de Água, numa zona de difícil acesso, e alastrou depois ao município vizinho de Câmara de Lobos.
Pelo menos 160 pessoas foram retiradas das suas habitações devido ao incêndio, nos dois concelhos, disse hoje à Lusa fonte da Secretaria Regional de Saúde e Proteção Civil da Madeira.
De acordo com o mais recente balanço divulgado pelo Serviço Regional de Proteção Civil, às 08:30, estavam ativas três frentes, nas áreas do Curral das Freiras e Fajã das Galinhas, no concelho de Câmara de Lobos, e na Serra de Água, no município contíguo a oeste, Ribeira Brava. A Proteção Civil voltará a fazer um balanço oficial às 19:00.
As chamas estão a ser combatidas por 120 operacionais de todos os corpos de bombeiros da região, apoiados por 43 veículos e o meio aéreo que já iniciou as operações, sendo que o arquipélago conta a partir de hoje com o apoio dos 76 elementos da força conjunta da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.
O Plano Regional de Emergência de Proteção Civil da Região Autónoma da Madeira (PREPCRAM) foi ativado para responder “à gravidade da situação vivenciada”.
A ilha da Madeira é hoje a única zona do país a estar sob aviso laranja do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para tempo quente (o segundo nível numa escala de três), estando em vigor o nível amarelo (o menos grave) para a ilha do Porto Santo.
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