“Temos um apuramento de 250 famílias afetadas, das quais 160 famílias precisam de ajuda”, nomeadamente alimentação e alojamento, avançou hoje à agência Lusa Joana Martins, uma das fundadoras do grupo “Ajuda Monchique”.
Natural de Monchique, Joana Martins vive em Moçambique e estava em missão na África do Sul quando teve conhecimento do fogo que lavrava na zona do barlavento algarvio. Ao saber da situação, a jovem algarvia decidiu “apanhar o primeiro avião” e voltar à terra natal, onde a família ainda vive, para poder ajudar.
Com experiência em missões humanitárias em países em desenvolvimento e em situações de intervenção de emergência, Joana Martins fundou o movimento cívico Ajuda Monchique, em conjunto com outros dois “filhos da terra”, Shanti Fernandes e John Roy Dommett, e em articulação com a Câmara Municipal de Monchique, com o objetivo de “coordenar a ajuda de forma sistematizada” e “apoiar a população de forma imediata”.
Neste âmbito, foi criado um centro de apoio à população, localizado na Escola Básica Manuel do Nascimento, em Monchique, onde é possível fazer o acompanhamento das pessoas afetadas pelo incêndio e onde estão a ser recolhidos e distribuídos os bens doados, através de uma rede de “mais de 200 voluntários”.
“A sociedade civil pode ajudar de várias formas, uma delas é através dos donativos, e deve visitar a página www.ajudamonchique.com, onde diariamente temos atualizada a lista de bens necessários”, disse Joana Martins, indicando que, neste momento, os bens mais necessários são tubos de água, depósitos de água, utensílios agrícolas, material de limpeza e produtos de higiene pessoal.
Na perspetiva da responsável, a forma “mais interessante” de apoiar a população afetada pelo fogo é o apadrinhamento direto, “doando coisas específicas para as famílias ou fazendo um acompanhamento, chegando perto das pessoas e mantendo um contacto”.
Outras das formas de ajudar são a participação como voluntário e a disponibilização de alojamento temporário ou permanente para as famílias que precisam e para os voluntários deslocados.
“Gostaríamos que as pessoas se focassem nos bens que estamos a priorizar, porque são esses que podemos escoar rapidamente. Precisamos muito de tendas familiares, ‘roulottes’ e caravanas, porque enquanto as casas estão a ser reconstruídas, talvez tenhamos de encontrar algumas soluções deste género”, afirmou a fundadora do movimento cívico.
A plataforma Ajuda Monchique não recebe donativos monetários, encaminhando esse tipo de ajudas para as contas solidárias já criadas por associações locais.
“A principal preocupação é que a ajuda seja coordenada e que a informação seja partilhada para que possamos chegar às pessoas, isso é importantíssimo. […] Preocupa-nos, imediatamente, o seguimento sistematizado das pessoas, porque é uma população envelhecida, há muitas pessoas carenciadas que já o eram e agora a situação ficou mais grave”, apontou Joana Martins, pedindo que os apoios que venham do Governo também “sejam ágeis e rápidos”.
Questionada sobre a adesão da população até ao momento, a responsável revelou que “tem sido absolutamente incrível”.
“Isto é muito bom, porque há algumas situações de desgraça que afinal nos unem e nos recordam o nosso lado humanitário, que é maravilhoso”, considerou.
Para o movimento Ajuda Monchique, é necessário um debate sobre o que está na origem do problema dos incêndios florestais e “é importantíssimo que não se comece outra vez a plantar os eucaliptos”.
“Esta questão do ordenamento da floresta é crucial”, defendeu Joana Martins.
O incêndio rural de Monchique, que destruiu perto de 28 mil hectares, deflagrou em 03 de agosto e foi dado como dominado uma semana depois, no dia 10. Atingiu também o concelho vizinho de Silves, depois de ter afetado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).
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