No âmbito de um encontro com o Presidente da República, no Palácio de Belém, em Lisboa, o presidente da ANMP, Manuel Machado, reiterou a ideia de que a legislação que responsabiliza os municípios pela limpeza das florestas, “em termos práticos, não é exequível, a não ser que seja feito um faseamento e uma priorização daquilo que se tem que fazer como primeira prioridade.
“Estamos a trabalhar com os órgãos de soberania para ser aperfeiçoado o que foi estabelecido na Lei do Orçamento do Estado, para ser clarificado, de modo a ser extremamente precisa a responsabilidade de quem têm que fazer o quê, a custas de quem, como e com que poderes, com que legitimidade, incluindo com base no direito de tomar posse, por exemplo, de propriedades privadas que têm proteção legal estabelecida”, avançou o representante dos 308 municípios portugueses.
Neste sentido, Manuel Machado reforçou que a primeira grande responsabilidade pela limpeza das florestas é dos proprietários, alertando que o prazo fixado para uma ação supletiva dos municípios é mais reduzido e, “em termos reais diretos, não há tempo suficiente”.
Inserido no Orçamento do Estado para 2018, o Regime Excecional das Redes Secundárias de Faixas de Gestão de Combustível indica que os proprietários privados têm até 15 de março para limpar as áreas envolventes às casas isoladas, aldeias e estradas e, se isso não for feito, os municípios terão até ao final de maio para proceder a essa limpeza.
“Até 31 de maio de 2018, as câmaras municipais garantem a realização de todos os trabalhos de gestão de combustível, devendo substituir-se aos proprietários e outros produtores florestais em incumprimento, procedendo à gestão de combustível prevista na lei, mediante comunicação e, na falta de resposta em cinco dias, por aviso a afixar no local dos trabalhos”, lê-se na lei.
“Necessitamos de um faseamento, de uma priorização das intervenções, de modo a evitar equívocos ou mal entendidos”, frisou o presidente da ANMP, considerando que a limpeza das florestas deve ser uma responsabilidade de todos, desde a administração central à administração local.
Na perspetiva da associação de municípios, a ideia de fazer tudo na limpeza das florestas “é gerar uma interpretação equívoca, um sentimento equivoco nas comunidades de que não há condições de resolver”, já que “há décadas que há trabalho que devia ter sido feito e que não foi feito por diversos organismos do Estado central, local, de todos”.
“Queremos fazer parte da solução e somos parte da solução, mas não somos os únicos que podem solucionar tudo. Pela nossa parte, estamos prontos - como aliás fizemos aquando dos incêndios e das tragédias desgraçadas que ocorreram na primavera, no verão e no outono passados“, declarou Manuel Machado.
Sobre a necessidade de meios humanos e materiais para garantir a limpeza das faixas de gestão de combustível florestal, o presidente da ANMP advogou que os 50 milhões de euros alocados para estes trabalhos, “manifestamente, não são suficientes”, referindo ainda que a verba ao adotar a forma de empréstimo “é mais difícil, porque basta a necessidade de deliberação dos órgãos, as formalidades processuais de contratação pública e tudo isso”.
“Não apreciamos ser postos sob cominação sobre uma postura impositiva de alguém que não pode fazê-lo. Estamos para colaborar ativamente, com determinação, afinco e incluindo suporte de algumas despesas ou uma parte significativa dos encargos, mas não aceitamos, obviamente, que queiram impor-nos aquilo que quem nos quer impor não fez”, afirmou o representante dos municípios, criticando a postura do Governo.
Do encontro com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para apresentação de cumprimentos do novo conselho diretivo da ANMP, Manuel Machado abordou um conjunto de matérias que a associação está a acompanhar e a desenvolver, em articulação com a Assembleia da República, nomeadamente “a nova lei de finanças locais ou o processo de descentralização de funções do Estado central nas autarquias locais”.
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