Em declarações à Lusa, Rui André defende que o Governo deve fazer “uma espécie de ato de contrição” já que os instrumentos de gestão do território que foram implementados como medidas para alavancar o desenvolvimento e a preservação da natureza “estão a ser precisamente o contrário”.

Após o incêndio de 2018, que destruiu mais de 27.000 hectares, o autarca insiste na importância de não se repetirem os erros cometidos após os fogos de 2003 e 2004, em que não foram implementadas medidas de reordenamento para aumentar a resiliência da serra de Monchique, onde “praticamente nada mudou e o que mudou, foi para pior”.

Numa altura em que já há cerca de 60 candidaturas, essencialmente para a "reconversão de áreas florestais para novas plantações”, o presidente da Câmara considera ser este o “momento decisivo para se fazer uma alteração na floresta e na paisagem”,o que já está a ser trabalhado em conjunto com o Governo.

Contudo, nota, grande parte do concelho está inserido na Rede Ecológica Nacional (REN), Rede Agrícola Nacional (RAN) ou Rede Natura, o que tem criado constrangimentos à economia local, já que estes instrumentos “são muito permissivos” para o ambiente, mas pouco para “as pessoas” e as “atividades económicas”.

Como a maioria dos terrenos no concelho explorados para produção florestal estão na mão de particulares, para que um processo de ordenamento seja bem sucedido, é essencial “uma participação ativa das pessoas”, sublinha Rui André.

A remuneração dos proprietários através dos serviços dos ecossistemas - “uma contribuição que dão a um bem comum” - é uma das medidas que está a ser equacionada, permitindo que as pessoas” façam parte da serra, com um floresta autóctone de produção”.

O reordenamento e a reconversão das espécies habitualmente exploradas na floresta serrana é um dos pontos defendidos pelo autarca que se queixa, no entanto, de que os municípios “só têm competências na parte urbana” podendo fazer “muito pouco” no toca ao ordenamento do território”.

No entanto, o município decidiu substituir os eucaliptos por árvores autóctones em todos os terrenos municipais, embora o incêndio de 2018 já tenha servido para derrubar o mito de que “não é um problema de uma ou outra espécie”, mas de ordenamento.

“O eucalipto tem de ser reordenado, para que possa ser mais fácil de gerir em caso de incêndio , mas para que seja também mais rentável”, refere, frisando que a rentabilidade dos terrenos florestais é essencial para a fixação e manutenção de habitantes.

Entretanto, foi criada a Associação dos Lesados do Incêndio de Monchique, que conta já com 40 membros, dos concelhos de Monchique e Silves, os mais afetados por aquele que foi o maior incêndio da Europa em 2018.

O presidente da associação, José Gonçalves, disse à Lusa que os membros aguardam por um resultado da investigação à origem do incêndio para se constituírem como assistentes com a intenção de “colocar um processo para haja alguma compensação aos prejuízos”.

O fogo deflagrou no dia 3 de agosto de 2018 na zona da Perna Negra, na serra de Monchique, consumindo, durante sete dias, mais de 27.000 hectares de floresta e de terrenos agrícolas nos concelho de Monchique, Silves e Portimão, no distrito de Faro, e de Odemira, no distrito de Beja.