Na sexta-feira, o líder da igreja católica reuniu-se com um grupo de 16 membros da minoria Rohingya, que vivem nos campos de refugiados da província de Cox’s Bazar no Bangladesh, país onde estão após terem fugido da perseguição que sofrem na Birmânia (atualmente Myanmar).
O papa referiu-se aos refugiados como ‘Rohingya’ – um termo inaceitável para muitos em Myanmar, onde são vistos como imigrantes ilegais bengali (um grupo étnico de Bengala, um território dividido entre a Índia e Bangladesh) e não como um grupo étnico distinto.
Durante as suas visitas públicas na parte inicial da sua viagem, que decorreu sobretudo em Myanmar (budista), Francisco não se referiu ao grupo pelo nome nem abordou diretamente a crise no estado de Rakhine, de onde mais de 620.000 Rohingya fugiram nos últimos três meses para escaparem a perseguições que as Nações Unidas consideram “limpeza étnica”.
A postura do papa mereceu elogios da pequena minoria católica de Myanmar, que temeu reações violentas dos nacionalistas, e de líderes budistas de topo, que estão agora na defensiva depois de um protesto global face ao tratamento dos Rohingya.
Quando chegou ao Vaticano, o pontífice disse que abordou a causa Rohingya em privado, descrevendo também como chorou depois de se reunir com o grupo de refugiados.
“Chorei. Tentei fazê-lo de uma forma que não fosse vista”, disse aos jornalistas. “Eles também choraram”, acrescentou.
Os comentários do papa motivaram uma enxurrada de comentários negativos nas redes sociais em Myanmar, um país bloqueado de comunicações modernas por cinco décadas, mas que agora vive ativamente as redes sociais.
“Ele [o papa] é como um lagarto cuja cor mudou por causa do tempo”, disse a utilizadora do Facebook Aung Soe Lin, enquanto o utilizador Soe Soe disse que o papa “devia ser um vendedor por usar diferentes palavras”.
A igreja Católica de Myanmar aconselhou o papa a não abordar o tema, para não agravar as tensões e pôr os cristãos em perigo.
Nas suas aparições públicas, Francisco abordou suavemente o tema, apelando à união, compaixão e respeito por todos os grupos étnicos, sem se referir, inicialmente, aos Rohingya.
“O papa é uma pessoa sagrada… mas ele disse uma coisa aqui [em Myanmar] e outra diferente noutro país”, publicou Ye Linn Maung, outro utilizador do Facebook.
Já Maung Thway Chun, presidente de um partido nacionalista não oficial chamado 135 Partido dos Patriotas aplaudiu a decisão do papa de não falar dos refugiados em Myanmar apesar da pressão de alguns”.
“Quer dizer que respeita o povo de Myanmar (…) só usou a palavra uma vez [no Bangladesh], só para confortar as organizações de direitos humanos”, considerou o nacionalista.
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