Inês Maria Meneses
créditos: Joel Bessa

“Se pudesse, colocava uma cruz neste discurso: ‘Ah, estás tão bem, não pareces nada a idade que tens.’ Começamos com essas preocupações quando estamos a envelhecer, mas devíamos era aceitar a idade que temos, o que importa mesmo é termos saúde. O que nos traz a mais o parecer? Nada. Eu quero ser. Não quero parecer”, diz a radialista, que tem atualmente 51 anos. “Sei que nunca mais terei trabalho na televisão, mas é deplorável a pressão sobre as mulheres. Há um elogio permanente às mulheres esbeltas, que parecem mais novas. Então e as outras? As que apanham o barco às 7 da manhã para virem trabalhar e mal têm tempo para pensar no que vão vestir?”.

Foi durante largos anos a autora anónima da crónica “O Sexo e a Cidália”, onde escrevia sem pruridos sobre amor e sexo, terminando sempre com a mesma frase: “Oh God make me good but not yet”. Um dos muitos exemplos da irreverência e liberdade que pautam a sua carreira, ora na escrita, ora na rádio, onde começou como autodidata quando tinha apenas 16 anos. Desde os tempos de miúda de Vila do Conde, cheia de vontade de falar com o mundo, à comunicadora nata que toca quem ouve e lê com as suas reflexões sobre a sociedade ou os afetos, Inês Maria Meneses é peremptória ao dizer: “Não acredito na coerência, acredito na evolução. Qualquer ser humano, falível por natureza, não pode querer ser totalmente coerente”.

Nestes 50 minutos de conversa, a autora de programas de rádio como os eternos ‘Fala com Ela’ ou ‘O Amor É’, e de livros como o ‘Cadernos de Encargos Sentimentais’, recorda marcos do seu percurso profissional e reflete sobre alguns dos estereótipos que ainda pautam a vida das mulheres no que toca ao amor: “A minha relação com o Tozé Brito é bem aceite porque ele é um homem mais velho, o sábio. Temos 20 anos de diferença de idade, se fosse ao contrário eu era uma galdéria com um capricho de me querer fazer nova. Já gostei de rapazes muito mais novos. É um tema tabu. As mulheres são penalizadas, por isso, e castigadas, veja-se a mulher do Macron. Qualquer mulher que ande com um homem mais novo, vai ter toda a crítica social em cima dela”.