"Not guilty". O julgamento do produtor de Hollywood arrancou hoje e Harvey Weinstein disse estar "inocente" das acusações de violação e de outros atos criminais de índole sexual. O produtor de Hollywood Harvey Weinstein foi formalmente acusado a 31 de maio.
A acusação formal foi emitida por um grande júri, segundo indicou a procuradoria do distrito de Manhattan, que avançou com o processo contra Weinstein, que também está a ser investigado em Los Angeles e Londres.
As acusações neste caso envolvem duas vítimas, Lucia Evans, que alega que Weinstein a forçou a fazer sexo oral no seu escritório em Tribeca em 2004; e uma segunda mulher, que não foi nomeada, e que alega que o produtor a agarrou contra a sua vontade e violou-a num hotel em Manhattan, em 2013. Weinstein arrisca uma pena de 25 anos de cadeia.
Apesar de apenas duas mulheres serem mencionadas na acusação, mais de cem afirmaram, desde outubro passado, ter sido assediadas sexualmente por Weinstein ao longo de várias décadas.
Segundo o advogado de Weinstein, Ben Brafman, o processo por violação envolve uma mulher que durante uma década manteve uma relação consentida com Weinstein, mas esta informação não foi confirmada.
A acusação de sexo oral forçado feita por Lucia Evans, consultora de marketing que queria ser atriz. O relato da sua história à revista The New Yorker em outubro passado é similar a muitos outros testemunhos de atrizes famosas como Ashley Judd ou Gwyneth Paltrow, e principalmente jovens desconhecidas que esperavam vir a ser estrelas. Evans relatou que Weinstein prometeu-lhe um papel no seu programa "Project Runway" antes de ser obrigada a fazer sexo oral com o produtor.
Harvey Weinstein, de 66 anos, entregou-se às autoridades em Nova Iorque a 25 de maio no âmbito de uma investigação judicial sobre agressões e abuso sexual, tendo saído em liberdade com pulseira eletrónica e depois de pagar uma caução de um milhão de dólares (864 mil euros). O produtor está também proibido de sair dos estados de Nova Iorque e do Connecticut.
Na ocasião, o advogado de Weinstein, Benjamin Brafman, escusou-se a comentar as acusações, mas já anteriormente tinha dito que o produtor negava qualquer alegação de "sexo não consentido".
No total, mais de uma centena de mulheres testemunhou que o produtor de Hollywood tinha abusado sexualmente delas, um escândalo que desencadeou a campanha #Time’sUp, que levou à queda de centenas de homens em lugares de poder de numerosos setores.
Depois das primeiras denúncias, em outubro passado, Harvey Weinstein foi afastado da empresa norte-americana Weinstein Company, que cofundou, e banido de várias associações, nomeadamente da Academia de Cinema dos Estados Unidos, que atribui os Óscares.
Diferente de Strauss-Kahn
Já condenado pela opinião pública, será possível evitar que Weinstein, de 66 anos e pai de cinco filhos, vá para a prisão?
"É difícil prever o resultado", afirma Suzanne Goldberg, professora de Direito da Universidade de Columbia, "em parte porque não houve muitos processos por agressões sexuais contra pessoas conhecidas. O que diz muito sobre o ceticismo que prevalece sobre as mulheres que acusam homens poderosos".
O movimento #MeToo quebrou o status quo favorável aos homens, como mostrou a recente condenação do comediante de televisão Bill Cosby por uma agressão sexual de 2004.
No entanto, ninguém acredita que as acusações não darão em nada, como no caso de Dominique Strauss-Kahn, acusado de ter agredido sexualmente uma camareira num hotel de Nova Iorque, em 2011. O mesmo Ben Brafman, uma eminência do Direito, que defendeu o ex-diretor-gerente do FMI, vai enfrentar de novo o promotor de Manhattan, Cyrus Vance, no caso Weinstein.
O abandono das acusações contra Strauss-Kahn aconteceram quando a credibilidade da mulher que avançou com a acusação foi comprometida, o que representou revés para Cyrus Vance. Dessa vez, o procurador tomou todas as precauções para verificar provas e a reputação das autoras do processo, segundo advogados consultados pela AFP.
Número de mulheres
Tal como aconteceu com Cosby, a batalha principal gira em torno de outras potenciais vítimas de Weinstein, que a acusação pode chamar ao banco das testemunhas.
Algumas dessas testemunhas podem ser suficientes para convencer o júri de que o produtor tinha uma tendência sistemática de abusar de mulheres, segundo explica o advogado Michael Weinstein, sem parentesco com o réu.
Bennett Gershman, professor de Direito da Universidade de Pace, está seguro de que o produtor, "o mais desonrado dos predadores sexuais", vai acabar por tentar nos próximos meses negociar um acordo para declarar-se depois culpado, evitando assim o julgamento e obtendo um redução de pena.
Certo é que o caso dará mais munições a outras mulheres que desejem processar Weinstein na justiça civil.
Como ilustrou o caso O.J. Simpson, um veredicto de culpa é mais fácil de ser obtido no âmbito civil do que no penal. Por isso, mesmo que escape de uma pena maior de prisão, a vida de Weinstein dificilmente voltará a ser o que era.
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