A Pulmonale – Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão considerou hoje inaceitável que o Governo tenha desaproveitado a linha de financiamento europeia que permitia avançar com rastreios do cancro do pulmão, causando “prejuízo a todos os portugueses”.
A história remonta a sábado, quando o presidente da associação dos Centros de Responsabilidade Integrados (CRI) denunciou que o Governo deixou encerrar em 2023 a linha de financiamento europeia que permitia avançar com rastreios do cancro do pulmão.
No início do mês, um relatório da OMS tinha já revelado que o cancro do pulmão foi o mais comum no mundo em 2022 e a principal causa de morte por cancro. Exatamente por o cancro do pulmão “continuar a ser a doença oncológica com maior mortalidade associada e isso decorre de os diagnósticos ocorrerem maioritariamente em fase avançada”, explicou Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale, que recordou que a associação tem um projeto-piloto para este âmbito desde 2021.
Projeto em que "o próprio ministro Manuel Pizarro manifestou interesse”. E, por isso, estranha e acha inexplicável que este financiamento não tenha sido aproveitado.  “Até que nada nos foi dito, apesar das nossas insistências. O Governo deixou a linha encerrar e não se candidatou. E não avançou nem com o nosso projeto, nem com outro projeto”, lamentou.

Isabel Magalhães considerou inaceitável que “esta oportunidade se tenha perdido”, depois de a Pulmonale ter apresentado um projeto "feito por especialistas que trabalharam ‘pro bono’" e definiram um projeto-piloto que, acrescentou, "está perfeitamente alinhado com as orientações científicas a nível internacional”.

Por seu lado, Manuel Pizarro respondeu afastando as razões financeiras e dizendo que “os novos rastreios recomendados pela União Europeia, com uma significativa contribuição de Portugal (rastreio do cancro da próstata com ressonância magnética; rastreio do cancro do estômago em certas comunidades; rastreio de cancro do pulmão em grandes fumadores) dependem da definição de normas técnicas adequadas e da criação de condições organizacionais adequadas”.

Contudo, a tutela parece estar sozinha nas justificações. Também a  Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) lamentou que Portugal esteja no “nível zero” na implantação do rastreio ao cancro do pulmão, bem como na prevenção desta doença, e desejou que “o novo Governo” tenha atitude diferente.

Para António Morais, da SPP, “a confirmar-se esta situação”, ela constitui “obviamente um revés porque este é um rastreio previsto e assim serão muitas as dificuldades".

“Estamos a falar de um rastreio que tem uma eficácia de redução de 20% da mortalidade. Isto é muito significativo. Este ano temos duas situações que diminuem muito a nossa ação em termos de saúde pública neste contexto. Tivemos uma lei de alteração do tabaco que não chegou a ser aprovada. Foi uma lei que ficou parada dada a dissolução do parlamento. E o rastreio que não avança”, disse António Morais.

Ora, entre associação e Governo a discussão está instalada. Mas, independentemente da discussão, há um financiamento que Portugal perdeu. Ou deverá dizer-se mais um financiamento? Como noticiava o Expresso no fim do ano: "PT2020 tem mais mil milhões de euros de fundos da coesão por executar até ao final de 2023". Neste caso particularmente inexplicável, tanto pela taxa de incidência do cancro do pulmão, como pelo facto de, em novembro do ano passado, ter sido anunciado o alargamento dos programas de rastreio oncológico aos cancros do pulmão, da próstata e do estômago que acabaram por ser incluídos no Orçamento do Estado para 2024.

*Com Lusa