Perante críticas aos casos de vacinação indevida e abusos vindos a público nas últimas semanas nas prioridades na inoculação contra a covid-19, o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS) assumiu-se perante os deputados pelo responsável da vacinação de “dirigentes ativos”, um conceito que limitou a quem tem de facto funções de contacto direto com utentes, excluindo uma generalização a todos os órgãos sociais dos lares.

“Se há aqui algum criminoso, o criminoso sou eu. Eu é que introduzi a questão dos dirigentes ativos. Coloquei-a em três instâncias: na comissão permanente [de acompanhamento da pandemia], dizendo à senhora ministra [do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social] que deviam ser vacinados, ao ex-coordenador da ‘taskforce’ [Francisco Ramos] e também num encontro com o primeiro-ministro [António Costa]. Nenhum dos três disse ámen, mas também nenhum dos três me contrariou. Até que um dos três achou que era de facto necessário, que se justificava plenamente”, disse Lino Maia.

O presidente da CNIS, assim como o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, estiveram hoje a ser ouvidos via teleconferência pelos deputados da Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19 e do processo de recuperação económica e social.

Manuel Lemos, a este propósito, leu aos deputados um ‘email’ com orientações claras para as instituições identificarem, no âmbito do processo de vacinação, os dirigentes e profissionais a vacinar.

“É um longo ‘email’, mas penso que resolve muitas das questões”, disse o presidente da UMP sobre as críticas a vacinação indevida de dirigentes, acrescentando que é “certo que houve abusos inaceitáveis e que põem em causa o bom nome de toda a gente”.

Lino Maia, que se declarou “absolutamente contra os abusos”, também disse ser “contra a perda de vacinas”, uma vez que “elas são poucas e é importante que sejam todas aplicadas”, apelando para os deputados terem “uma palavra no sentido de serenar, de acalmar” a discussão em torno deste tema, no que foi secundado por Manuel Lemos.

“Estou a notar em dirigentes um certo desencanto, uma vontade de recuar, e sem estes dirigentes ficaríamos muito mal. É preciso uma palavra de respeito para que não haja uma debandada e fiquemos sem estes dirigentes”, disse o responsável da CNIS.

Sobre o andamento do processo de vacinação nos lares e na rede de cuidados continuados, os dois responsáveis foram unânimes numa avaliação positiva, afirmando que o processo está a correr bem e que a grande maioria já recebeu a segunda dose da vacina.

À exceção dos lares onde se registaram surtos, disse Lino Maia, a expectativa é que a vacinação esteja terminada antes de 06 de março.

Quanto aos lares com surtos ativos que impediram a vacinação, adiantou que há a garantia de que o Ministério da Saúde assumirá a vacinação nessas instituições sem que seja necessário qualquer requerimento para o efeito.

Lino Maia considerou ainda “muito importante” que os utentes dos lares ilegais tenham sido “considerados como pessoas” e “colocados ao lado dos outros” na vacinação, tendo ainda aproveitado para defender a necessidade de criação de um grupo de trabalho para a legalização destas instituições.

Defendeu também a vacinação do pessoal em trabalho de apoio domiciliário.

Manuel Lemos e Lino Maia estiveram também de acordo na avaliação de que as brigadas de intervenção rápida criadas para acudir a surtos em lares são insuficientes, não tendo todos os recursos humanos necessários, algo que o presidente da UMP justificou com a falta de pessoal disponível em algumas regiões do país onde não existem pessoas para as funções necessárias.

Lino Maia disse também que a expectativa é a de que vacinação reduza a incidência e frequência de surtos, tornando o reforço destas brigadas menos necessário.