Tobi, um gerador automático de texto, escreveu sobre os resultados de cada um dos 2.222 municípios do país, em francês e alemão, segundo uma análise apresentada no mês passado na conferência Computation + Journalism, em Miami.

Este tipo de programa, dotado de inteligência artificial, disponível há dez anos, está a tornar-se cada vez mais comum nos grandes meios de imprensa.

"Vemos que o potencial da inteligência artificial ou do robô-jornalista é cada vez mais aceite nas redações do mundo todo", disse Damian Radcliffe, professor da Universidade do Oregon.

"Estes sistemas podem oferecer rapidez e exatidão e potencialmente ajudar na realidade de redações mais modestas, assim como nas pressões a que os jornalistas são submetidos em termos de tempo", acrescentou.

Com o setor a lutar por novos meios de sustentabilidade, os meios de comunicação começaram a voltar-se para a inteligência artificial para produzir artigos, personalizar a entrega de informação e, em alguns casos, classificar os dados.

Para estas organizações, os "bots" não visam a substituir repórteres ou editores, mas sim ajudá-los a se desembaraçar de tarefas mais monótonas, como resultados desportivos e de empresas.

O The Washington Post, por exemplo, apoiou-se num programa chamado Heliograf para cobrir mais de 500 eleições desde 2014.

Segundo Jeremy Gilbert, responsável do jornal americano, o "bot" consegue dar resultados mais rápido e atualizar artigos à medida que a informação muda, o que permite aos jornalistas concentrarem-se noutras tarefas. Segundo ele, as reações dentro da redação têm sido positivas geralmente.

"Surpreendentemente, muita gente veio e disse: 'Eu faço este artigo todas as semanas, tem alguma coisa que poderíamos automatizar?'", relata Gilbert.

Ajuda valiosa ou ameaça?

As mesmas dúvidas pairam em outras redações pelo mundo. A agência de notícias norueguesa NTB automatizou as notícias desportivas para que os resultados dos jogos saiam em 30 segundos.

O Los Angeles Times, por sua vez, desenvolveu um "quakebot", um "bot" especializado em terremotos, que publica rapidamente artigos sobre sismos na região.

A agência Associated Press automatizou os resultados de empresas para cerca de 3.000 companhias, enquanto o jornal Le Monde, com seu sócio Syllabs, utilizou um programa que gerou 150.000 páginas da Internet cobrindo 36.000 municípios durante as eleições de 2015.

Embora os profissionais de media reconheçam as limitações destes programas, também destacam que às vezes podem fazer o que os humanos não conseguem.

O Atlanta Journal-Constitution usou um equipamento de jornalismo de dados para desvendar 450 casos de médicos remetidos a juntas médicas ou tribunais por má conduta sexual, quase a metade dos quais ainda estão livres para exercer a medicina. O jornal usou o "machine learning", uma ferramenta de inteligência artificial, para analisar cada caso. O trabalho foi revisto de seguida por jornalistas.

E apesar de os robôs surgirem como uma ajuda aos jornalistas, persistem as preocupações sobre a evolução da profissão. Alguns temem que a inteligência artificial saia do controle e resulte em cortes de empregos.

Em fevereiro, investigadores da OpenAI, uma organização especializada em inteligência artificial, anunciaram que haviam desenvolvido um gerador de texto automático tão bom que tinham decidido mantê-lo em sigilo durante algum tempo.Segundo eles, o programa poderia ser usado para gerar artigos noticiosos falsos, usurpar a identidade de pessoas on-line ou automatizar conteúdos falsos nas redes sociais.

Mas Meredith Broussard, professora de jornalismo de dados na Universidade de Nova Iorque, não vê riscos imediatos na inteligência artificial. Por enquanto, os programas se ocupam dos artigos "mais chatos", diz. "Alguns trabalhos serão automatizados, mas no geral não me preocupa um apocalipse causado por robôs na redação", acrescenta.

E Jeremy Gilbert, do Washington Post, sublinha: o jornal "tem uma equipa incrível de repórteres e editores e não queremos substituí-los".