Maria Carrilho, que falava na apresentação do seu livro “Parceiros Desiguais, a Defesa nas Relações Europa-EUA” editado pelo Instituto da Defesa Nacional, justificou esta questão face à mudança de liderança norte-americana, que passou de um estilo agressivo, arrogante e longe dos atributos próprios da diplomacia do ex-presidente Donald Trump, para uma personalidade firme, mas empática de Joe Biden.
“O estilo de normalidade do novo presidente agrada desde logo aos europeus. A contenção do seu discurso favorece o diálogo com os interlocutores, mas a complexidade existe no que diz respeito ao relacionamento mútuo entre os Estados Unidos e a União Europeia, que se estende ao nível global”, disse a investigadora, professora catedrática e coordenadora do Mestrado em Estudos Europeus no ISCTE/IUL.
Maria Carrilho explicou que as expectativas europeias são atualmente muito elevadas em relação à nova administração e contam-se já os sinais que podem caracterizar a política externa do novo presidente.
“Sublinhe-se como a nossa investigação detetou há anos que Biden enquanto senador deu provas já nessa altura de uma atitude respeitadora em relação à União Europeia. Creio que existe de facto uma boa vontade de fundo na pessoa que dirige esta nova administração”, adiantou.
Entre os sinais, destacou a investigadora, está a intenção expressa dos EUA de integrarem instâncias multilaterais desde o Acordo de Paris, à Organização Mundial de Saúde, à iniciativa Covax, além de retomar também um aspeto que classifica de fundamental que é o dos financiamentos.
A investigadora defende, contudo, que é preciso esperar pelas indicações que virão nas próximas reuniões do G7, em território britânico, e da Cimeira da NATO, em Bruxelas, a 14 de junho.
“Devemos estar atentos ao que se passa nessas reuniões. É aí que Joe Biden tem um programa muito importante de atividades bilaterais”, frisou.
Maria Carrilho destacou a reunião que Joe Biden irá ter com a presidente da Comissão Europeia e com o presidente do Conselho Europeu.
“Reuniões com alto valor simbólico e significado político porque há um encontro entre duas entidades, o que tem sido por vezes bastante difícil enquanto tal”, frisou.
A apresentação do livro foi feita por dois antigos ministros da Defesa, Figueiredo Lopes e Nuno Severiano Teixeira.
Nuno Severiano Teixeira classifica a obra como uma referência para compreender o passado com chaves para os desafios do futuro, e na sua apresentação referiu-se também às diferenças entre Donald Trump e Joe Biden.
“Depois da era Donald Trump, da crise nas relações transatlânticas, da descredibilização da NATO, da hostilidade à União Europeia, Joe Biden é um alívio e é uma grande oportunidade que a Europa não pode e não deve desaproveitar”, disse.
Nuno Severiano Teixeira, atual diretor do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), concorda que a reação da Europa é positiva, mas diz esperar que não fique no plano das posições meramente declaratórias e simbólicas.
“Era bom que (a UE) estivesse em condições de dar uma resposta efetiva e positiva aos sinais dos EUA. Talvez acrescentar um pouco mais aos orçamentos de Defesa, talvez ter uma posição mais firme em relação às investidas russas”, frisou.
Partindo de documentação inédita, o livro “Parceiros Desiguais, a Defesa nas Relações Europa-EUA” Maria Carrilho passa em revista o historial das relações transatlânticas, tendo como fio condutor a questão crucial da Defesa.
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