“Eu decidi falar no Parlamento da Ucrânia no dia 1 de abril de 2022. Peço-lhe (deputada Paula Santos) para que diga o que disse aqui em frente aos deputados ucranianos. Para falar com esses deputados que não falam com as mulheres durante semanas, cujos filhos não podem ir à escola (…). Isto não se trata de ficar sentado à mesa e fazer com que as pessoas negoceiem, isto é sobre fazer com que a Rússia saia da Ucrânia. Nem mais nem menos”, disse Metsola dirigindo-se à deputada do PCP.

A líder parlamentar comunista reiterou que “é preciso parar de instigar e alimentar a guerra na Ucrânia e abrir vias de negociação”, e considerou que “a UE que mobiliza e disponibiliza milhões de euros para o armamento é a mesma que recusa a valorização dos salários e das pensões”.

Sobre os efeitos da guerra na Ucrânia, sobretudo económicos, Metsola acrescentou que é preciso ouvir os jovens afetados pela crise da habitação e os empresários atingidos pela inflação.

Roberta Metsola participou hoje num debate na Assembleia da República que considerou “muito animado” por parte dos deputados dos vários partidos portugueses.

Respondendo diretamente ao líder do Chega sobre os casos de alegada corrupção na UE, Metsola disse que é preciso encarar e analisar o problema, mas sublinhou que se devem evitar generalizações.

“Vimos o que aconteceu e vimos o que podemos fazer melhor, mas temos de ser um Parlamento que não é empurrado para um canto por aqueles que querem destruir o projeto europeu, por causa de alegadas ações praticadas por alguns”, disse Roberta Metsola.

Referindo-se às críticas de André Ventura sobre as políticas migratórias da UE, Metsola recordou que em 2022 assinalam-se dez anos sobre a maior crise no Mediterrâneo, urgindo o deputado a ponderar as posições.

“Eu venho de uma ilha (Malta) que está no centro do problema. Sabe o que dissemos há dez anos? Dissemos: ‘Nunca Mais’. Finalmente temos, entre os Estados membros, meios de seguir em frente. O senhor [André Ventura] pode dizer ‘nem pensar’ mas o que eu lhe peço é que se sente à mesa e vote por um pacto que também olha pela proteção das fronteiras, porque há países mais pressionados que outros”, disse Metsola.

“Não se esqueça disto: para milhões de pessoas ainda é mais seguro embarcar e enfrentar a morte (…) Estamos a falar de pessoas”, declarou a presidente do Parlamento Europeu, dirigindo-se a Ventura.

Roberta Metsola, natural de Malta, agradeceu aos deputados portugueses a menção à jornalista maltesa Daphne Caruana Galizia assassinada em 2017.

“Nenhum jornalista deve ser morto por fazer o seu trabalho, só porque estava a investigar a verdade. Não quero que isto aconteça nem na Europa nem no meu país”, disse.

Roberta Metsola demonstrou ainda preocupação sobre as questões do clima e violência sobre as mulheres do Afeganistão e do Irão.

“Não digo isto porque sou mulher (…) mas é o que vemos. As mulheres são mortas e as minorias são perseguidas”, afirmou Metsola.

Trata-se da primeira vez que um presidente de uma instituição europeia participa num debate com os líderes parlamentares no plenário da Assembleia da República.

Durante a tarde, Roberta Metsola participa no Conselho de Estado, a convite do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

A reunião vai abordar as perspetivas sobre a atualidade da agenda europeia, a menos de um ano das eleições para o Parlamento Europeu.