“A decisão de Viena de reforçar o controlo dos veículos provenientes de Itália é uma bofetada na cara da solidariedade europeia exigida ontem [domingo] em Lampedusa”, declarou o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini, aludindo à visita efetuada à ilha siciliana pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que reclamou “uma resposta europeia”.

Salvini, líder do partido de extrema-direita Liga e responsável pela pasta das Infraestruturas e Transportes no governo de coligação liderado por Giorgia Meloni, acrescentou que a decisão do governo austríaco constitui também “uma ofensa grave às forças policiais e aos voluntários italianos que há anos defendem as fronteiras europeias”.

“Se Viena quer arvorar-se como campeã da legalidade europeia em matéria de migração, deveria enviar meios e homens para ajudar no Mediterrâneo”, prosseguiu, observando que “é demasiado fácil construir fortalezas nos Alpes, castigando trabalhadores como os camionistas e os turistas, enquanto a Itália combate os traficantes”.

O ministro dos Transportes sublinhou que o reforço dos controlos, anunciado no fim-de-semana pelo chanceler austríaco, Karl Nehammer, ameaça agravar ainda mais a saturação em zonas de passagem como Brenner, que liga Itália e Áustria e é essencial para o transporte de mercadorias entre o sul e o centro da Europa, “dificultado por proibições ilegítimas e discriminatórias”.

Desde o início deste ano, já desembarcaram em Itália cerca de 130 mil migrantes, mais do dobro do número de chegadas registado no mesmo período no ano passado (68 mil) e o triplo em comparação com 2021 (43 mil), de acordo com os dados hoje atualizados pelo Ministério do Interior italiano.

Giorgia Meloni afirmou hoje que Itália acompanhará com atenção os compromissos assumidos pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na sua visita a Lampedusa no domingo.

Meloni referiu-se, em particular, à promessa de disponibilizar dinheiro para um acordo histórico com a Tunísia, depois de o seu Governo aprovar hoje um pacote para a emergência migratória.

O memorando assinado por Meloni, Von der Leyen e pelo primeiro-ministro neerlandês, Mark Rutte, com o Presidente tunisino, Kais Saied, em meados de julho prevê uma “parceria estratégica e global” destinada a combater a imigração ilegal e a reforçar as relações económicas entre o bloco comunitário e o país norte-africano, que se situa numa das principais rotas de migrantes e refugiados que viajam para a Europa.

Entretanto, o Governo italiano aumentou para 18 meses o período máximo de detenção dos migrantes que vão ser repatriados por não serem elegíveis para asilo, indicaram hoje fontes governamentais.

Meloni tinha anunciado que o seu executivo iria aprovar esta medida na reunião do Conselho de Ministros de hoje, como parte de um conjunto de medidas para lidar com o aumento das chegadas de migrantes do norte de África à ilha de Lampedusa.

A primeira-ministra italiana considera que o aumento do afluxo de migrantes colocou o país sob uma “pressão insustentável” e deslocou-se com a presidente da Comissão Europeia a Lampedusa no domingo, depois de a ter convidado a visitar a ilha italiana para ver pessoalmente a situação.

Na sexta-feira, Meloni afirmara que o tempo máximo de permanência dos requerentes de asilo nos centros de acolhimento se manteria em 12 meses.