"Não me sentia como homem, como um menino. As pessoas que estão comigo sempre souberam. Sou modelo, aqui em Portugal, mas não faltaram jogar pedras e paus em mim. Ouvi muito que nunca iria conseguir, frases como ‘não tem espaço na moda para pessoas como você’, ‘pessoas como vocês metem nojo’. Não aceitei esse não. ‘Sou Ivvi Romão, e vocês ainda vão ouvir falar de mim’. Acreditei e corri atrás. E cá estou. Gente, lamento, estavam errados".

Saiu de casa da família muito cedo, com apenas 13 anos. Era apaixonada por dança, moda, cultura e sentia-se isolada, incompreendida. A depressão tomou conta de boa parte da sua adolescência, tentou mesmo suicidar-se. Sobre isso, gosta de citar o ditado que diz que: "Não há sofrimento que não venha com aprendizado".

Do Brasil para a Europa, fez teatro, televisão, bailado clássico. Quando chegou a Portugal começou a trabalhar também como modelo masculino.  Aos 19 anos, uma tragédia familiar levou-a a um momento de epifania: estava na hora de viver a sua verdade, porque a vida pode ser muito curta.  Aproveitou o confinamento obrigatório do Covid-19 para se reorganizar, mente e corpo. Através de um crowdfunding reuniu dinheiro para fazer uma cirurgia de implante mamário. Seguiu-se uma cirurgia de redesignação genital. "Sou uma mulher trans. Mas não tenho o dever de fazer cirurgia para ser uma mulher trans. O que é ser mulher? Não preciso ter peito, um rosto feminino, não preciso de ter uma vulva. Eu escolhi fazer as cirurgias para estar mais confortável comigo (...) Fiz a raspagem da maça de Adão, fiz a mamoplastia de aumento e a cirurgia de redesignação genital, mudança de sexo, como queiram chamar. Consiste em transformar o falo em vulva. Existem várias técnicas." E acrescenta: "Claro que há prazer sexual depois da operação. É tão bom gozar, não só no físico, porque gozar comigo no geral está sendo muito bom. As pessoas dizem: 'Ah, ela fez a cirurgia dela, deve estar transando com todo o mundo'. Pelo contrário, tive 23 anos a lidar com um  órgão que não era eu. Me masturbar, transar, era muito complexo. Agora que estou descobrindo ter prazer comigo e querendo ter prazer comigo, o meu corpo corresponde à minha cabeça, é bom. Nossa, essa sou eu, que legal, ontem era outra e mudei".

O podcast Um Género de Conversa, patrocinado pela Pereira Monteiro Fundação e pela Companhia das Culturas, termina assim a segunda temporada. Regressa em 2024.

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