A queixa foi apresentada esta segunda-feira, 12 de agosto, dois dias após Imane Khelif, pugilista argelina, vencer a medalha de ouro em Paris2024 na categoria -66 kg de boxe.
Já se sabia que Khelif pretendia avançar com um processo desta natureza, mas a Variety adianta agora que alguns dos seus alvos são personalidades de peso. Conforme confirmou junto de Nabil Boudi, advogado da atleta, a revista informa que a escritora J.K. Rowling e o magnata Elon Musk foram ambos citados na queixa criminal apresentada às autoridades francesas por alegados “actos de assédio cibernético agravado”.
Segundo a Variety, a ação foi intentada contra a rede social X, o que, segundo a lei francesa, significa que foi intentada contra pessoas desconhecidas. Isso “garante que o 'Ministério Público tem toda a latitude para poder investigar todas as pessoas”, incluindo aquelas que possam ter escrito mensagens de ódio sob pseudónimos, disse Boudi.
No entanto, Musk e Rowling são explicitamente visados, porque ambos — conhecidos por criticar publicamente o ativismo pela identidade de género — fizeram publicações no X onde colocaram em causa a integridade desportiva de Khelif e a sua identidade de género feminina.
Apesar de ter nascido mulher e de não se identificar como transgénero ou intersexo, Khelif enfrentou escrutínio e acusações ao longo de todo o torneio de ser um homem e de ter cromossomas XY — isto, apesar de ser apoiada pelo Comité Olímpico Internacional, que afirmou que “cientificamente, não se trata de um homem a lutar contra uma mulher”.
A lutadora pediu que o ‘bullying’ de que tem sido alvo parasse, depois de a Associação Internacional de Boxe, afastada do movimento olímpico, ter dito ter testes, nunca divulgados, que comprovam que é um homem. Khelif, que venceu todos os ‘rounds’ disputados em Paris2024, foi particularmente visada depois de eliminar a italiana Angela Carini no início do torneio, em 46 segundos, depois de a adversária abandonar, em lágrimas, levando muitos a questionar o seu género.
Foi neste contexto que J.K. Rowling partilhou uma fotografia do combate com Carini, acusando Khelif de ser um homem que estava a “desfrutar da angústia de uma mulher a quem tinha acabado de dar um murro na cabeça”. Musk, por sua vez, partilhou um post da nadadora Riley Gaines que afirmava que “o lugar dos homens não é nos desportos femininos”. O proprietário do X assinou a mensagem escrevendo: “Absolutamente”.
Outro dos visados pode ser Donald Trump, confirmou Boudi, já que o ex-Presidente dos EUA e atual candidato presidencial também fez parte do assédio online. Trump publicou uma mensagem com uma fotografia do combate com Carina acompanhada da mensagem: “Vou manter os homens fora dos desportos femininos!”
Boudi explicou à Variety que, embora este processo tenha sido movido junto do gabinete de combate ao ódio do Ministério Público francês, “pode visar personalidades no estrangeiro”. O advogado salienta que “o gabinete do procurador para o combate ao discurso de ódio online tem a possibilidade de fazer pedidos de assistência jurídica mútua com outros países”, o que significa que pode haver punições nos países onde residem os visados se existirem acordos quanto às leis de discurso anti-ódio — o uq é oi caso entre França e os EUA.
No entanto, o advogado frisa que este processo é dirigido aos autores das publicações nas redes sociais e não às plataformas em si. “A responsabilidade de sancionar as plataformas é dos legisladores, não nossa”, afirmou.
Comentários