“A situação do senhor presidente da Autoridade já era uma demissão esperada porque a sua posição estava fragilizada desde os problemas de Pedrógão [Grande]. Estaria já pouco mais do que em gestão corrente e a Autoridade já não assumia muito daquilo que importava preparar em termos de futuro. Por isso, esta é uma atitude de dignidade, que define o caráter do senhor coronel Joaquim Leitão”, afirmou hoje à agência Lusa o presidente da LBP, Jaime Marta Soares.

O presidente Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), Joaquim Leitão, entregou na quarta-feira a carta de demissão dirigida ao secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, que, por sua vez, a remeteu para o primeiro-ministro, atendendo à saída, no mesmo dia, da ministra da tutela, Constança Urbano de Sousa, do executivo. A demissão foi aceite por António Costa.

Jaime Marta Soares deixa elogios pessoais ao presidente demissionário, mas também alguns reparos.

“O coronel Joaquim Leitão era uma excelente pessoa, talvez não estivesse vocacionado para o exercício de um cargo tão complexo e tão difícil e, porventura, não teve a independência que seria desejável para o exercício daquele cargo. Deixo uma saudação de respeito, mas compreendo e penso que não tinha outra solução e que essa foi a melhor solução”, vincou.

O presidente da LBP defendeu que o atual modelo de Proteção Civil “claudicou e faliu”, e apelou a uma “alteração profunda” nas políticas futuras.

Jaime Marta Soares reconheceu que o próximo presidente da ANPC tem de ser alguém da confiança do Governo, mas alertou que há outros fatores a ter em conta na nomeação para um cargo desta responsabilidade e traçou o perfil que acha adequado.

“Uma pessoa com uma personalidade bem vincada, com base nos conhecimentos, na independência no exercício de uma função que se quer por alguém que esteja equidistante de qualquer poder, mas que seja próximo das populações, daqueles a quem a Proteção Civil efetivamente tem de servir”, declarou o presidente da LBP.

Jaime Marta Soares recordou que, no sábado, o Governo vai reunir em Conselho de Ministros extraordinário para analisar o relatório da comissão técnica independente aos incêndios da região centro, em junho, entre eles o de Pedrógão Grande, onde morreram oficialmente 64 pessoas.

"Deve-se parar para refletir. Não se devem tomar atitudes precipitadas"

O presidente da Liga de Bombeiros Portugueses deixou um aviso: “Deve-se parar para refletir. Não se devem tomar atitudes precipitadas, não fazer leis nem decisões do governo relatórios que estão muito aquém daquilo que tenha de ser a isenção que se deseja para um projeto novo, que se entende como base de trabalho, mas não como um trabalho consolidado”.

O presidente da LBP disse esperar que, entre aquilo que se deseja para o futuro modelo da Proteção Civil e o perfil do próximo presidente desta entidade sejam compatíveis, “para se evitar mais estragos do que aqueles que já são demasiados".

As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram 43 mortos e cerca de 70 feridos, mais de uma dezena dos quais graves. Os fogos obrigaram a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas, sobretudo nas regiões Norte e Centro.

O Governo decretou três dias de luto nacional, entre terça-feira e hoje.

Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, em junho, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou, segundo a contabilização oficial, 64 mortos e mais de 250 feridos. Registou-se ainda a morte de uma mulher que foi atropelada quando fugia deste fogo.

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